Uma senhora, chamada de Lorena que viveu em 1929, no interior do RS ouviu um barulho estranho. Era uma noite típica do inverno gaúcho, e Lorena acordou com um sobressalto. Ela se levantou da cama com cuidado, tentando não fazer nenhum ruído, e pegou uma lanterna. Com passos hesitantes, atravessou o corredor e chegou à porta da cozinha.
O barulho persistia . A senhora abriu a porta com cuidado. O que ela viu a deixou petrificada.
Diante dela, em frente ao fogão a lenha, havia uma figura estranha e misteriosa. Era um homem alto, vestido com roupas antigas e empoeiradas, segurando uma panela de ferro fundido.
A senhora tentou conter o grito que ameaçava escapar de seus lábios e, com a voz trêmula, perguntou: "Quem é você? O que está fazendo aqui?"
O homem não respondeu, continuando a mexer a panela como se estivesse alheio à presença dela. Ele parecia uma aparição de outra era, um espectro do passado.
A senhora, mesmo assustada, se aproximou lentamente. Ela notou que a panela continha uma mistura de alimentos que ela reconheceu instantaneamente: um típico cozido gaúcho. Mas como era possível? Aquela receita era uma tradição de família, e a última vez que a senhora a preparara fora anos atrás."Perdão, senhora, eu só queria relembrar o sabor desta comida que eu já conhecia"
A senhora sentiu seu coração amolecer diante da melancolia nos olhos do estranho. Ela deixou a lanterna de lado, aproximou-se dele e disse: "Não precisa se desculpar, meu amigo. Sente-se, compartilharemos este cozido juntos, como se estivéssemos em família."
E assim, naquela noite escura e fria, a senhora e o misterioso visitante compartilharam uma refeição, quebrando o silêncio do tempo e recriando a conexão com suas raízes. Na manhã seguinte, o homem havia desaparecido, deixando para trás apenas a lembrança de uma noite mágica e inesquecível no interior do Rio Grande do Sul, onde o passado e o presente se entrelaçaram em uma história única. Parecendo um sonho... ou foi.
Neri Satter – Novembro de 2023 CONTOS DO SCARAMOUCHE