O melhor café de Havana
A manhã ia pelo meio quando uma caminhonete azul parou em frente ao café e buzinou duas vezes; era o George, mas desta vez não viera sozinho. Uma riponga desceu junto com ele, o que era no mínimo estranho.
- Wanda! - Exclamou ele, abrindo os braços ao me ver sair para a calçada.
Trocamos um abraço afetuoso. Eu gosto do George, pois apesar de ser uma pessoa séria, pode ser bem divertido para quem o conhece de perto.
- Fez boa viagem? - Indaguei, emendando logo outra pergunta:
- E quem é a sua amiga?
- Sim, e essa é a Vana... Vana, Wanda Jefferson!
A riponga me dirigiu um olhar desconcertado, mas estendeu a mão, que apertei.
- Nunca havia visto uma pessoa negra - declarou em seguida.
Atrás dela, George girou o indicador na têmpora. Fiz um aceno de cabeça.
- Vana perdeu a memória e está tentando voltar pra casa, em Savannah - complementou George. - Eu não podia deixar a pobre garota sozinha, pedindo carona na estrada.
- Bem, vamos entrar. Devem estar com fome, imagino - convidei-os.
A riponga também parecia nunca haver entrado num café antes, olhando tudo com muita atenção.
- É bonito - aprovou enfim.
- É o melhor café de Havana, Flórida - reforçou George, indicando uma mesa para que sua convidada tomasse assento.
- Aqui não é Tallahassee? - Questionou a garota.
- Havana faz parte da região urbana de Tally - expliquei. - Você já está praticamente na capital.
- E aqui também há uma parada da Greyhound - acrescentou George. - Para que ela pegue o ônibus para Savannah.
- Podemos discutir isso enquanto tomam o café da manhã - sugeri. - O de sempre, George?
- Sim, bacon, ovos e café preto - aduziu ele. - E você, Vana?
- Eu não como carne - disse ela. - E também não tenho dinheiro.
- É por minha conta - tranquilizou-a George.
- O seu é por conta da casa - redargui. - Se não come carne... que tal chá e waffles com mel?
- Por favor - Vana balançou a cabeça afirmativamente. E ainda olhando ao redor:
- Posso ir ao sanitário?
- Claro - aduzi, apontando o corredor na lateral do salão. - A porta rosa no fim do corredor.
Esperei até ouvir a porta do banheiro se fechando, antes de me inclinar sobre George e fazer a pergunta que estava na ponta da minha língua.
- George, porque não deixou a riponga na delegacia mais próxima? Como acha que ela vai conseguir chegar em Savannah sem um tostão?
Ele sorriu.
- Acredite se quiser, Vana tem um plano. Nós conversamos muito pelo caminho...
- Desde que isso não inclua eu dar emprego de garçonete pra ela... - alertei, cenho franzido. - Mal estou conseguindo pagar as minhas contas!
- Eu daria uma oportunidade à Vana - afirmou, também sério. - E ela não vai ficar aqui para sempre, só até juntar uns cobres pra poder seguir viagem.
- George, essas coisas têm que ser acertadas antes. Eu não faço caridade! - Sussurrei, dedo em riste.
- Calma! - Pediu ele, erguendo as mãos como que para se defender de uma agressão iminente.
A conversa cessou, pois a porta do banheiro se abriu. Em seguida, Vana apareceu com um folheto nas mãos; um daqueles que ficavam pregados no quadro de avisos, no corredor para os banheiros.
- Cinquenta dólares para quem encontrar esse cachorro? - Indagou, exibindo o papel.
E antes que eu ou George disséssemos alguma coisa, acrescentou:
- Eu posso fazer isso.
- [20-09-2023]