O gigante defunto.
Uma carcaça gigante. Não sei bem: parecia lagarto. Os ossos da costela davam, juro, mais de dez de mim! Inteirinho, o esqueleto. Seus ossos branquinhos, no meio daquele deserto. A coisa era monumentosa e solene que se podia entrar, como museu, pela parte da boca, passando por baixo dos afiados dentes, e entrar na visão de catedral, o brancor estático entre o lume vivo; a espinha se vertendo longa e espalhando seus dedos ao chão, fora a cauda. Pensei naquilo, em que bicho seria e o que ocorreu para fincar seu fim no areal-esquecido. Senti-me até abismado, quase depressivo, ou mesmo em grande assombro. Um grande trunfo para a ciência, uma enorme descoberta da arqueologia? Aquele presente, ali, exibido livremente, sem ser necessária uma única escavação, à livre toque, a todo espanto e maravilha. Apesar do espaço aberto, parecia o ar ali timidar, e o corpo, mesmo no ermo, envolver-se num frio; e o todo silêncio. Era o espírito do bicho? Ele ali vivia, seu templo? Inconformado, talvez, com seu morrer solitário, um ser tão grande e potente, abandonado. Até mesmo eu senti desconforto, e nada disso que agora narro senti, eu era, ali, apenas, verdade pura, criança e idoso. Estar dentro da carcaça exigia suportar muita coisa, e parecia mesmo que todos os quilos daquilo quando vivo se voltavam contra minhas costas e meu psicológico; eu, em segredo de mim mesmo, segurava lágrimas, de pura dor. Que era meu acontecido? O colosso só em osso, sem som, sem passos, sem fome e sem nada, apenas a mim ele tinha; e a quem mais teve?, e a quem mais terá? Coisa essa não poderia eu conceber, que, com certeza, era eu o primeiro, e assim seria: pois morreria ao sair e ninguém tomaria conhecimento... e sucederia assim aos outros. Que lástima, meus titãs subiram, eu sei que não poderia eu ser vivo depois daquilo. Devorei cada pedaço daquele fantasma, e vaguei por aí, espalhando seus restos.