A Canção das Areias Gélidas
Era uma noite como qualquer outra no deserto amarelo e tempestuoso, quando um grupo de beduínos se reuniu ao redor de uma fogueira, ávidos por compartilhar histórias de terror e mistério que vivenciaram em suas jornadas pelas vastas dunas. As chamas se movimentavam, criando sombras dançantes sob o vasto céu estrelado, a lua brilhava timidamente no céu, enquanto os ventos sussurravam segredos inaudíveis pelas dunas.
Dentre os beduínos, um homem se destacava, sua aura misteriosa atraía todos os olhares. Quando chegou a sua vez de falar, um silêncio intenso envolveu o grupo. As cores do cenário ao redor pareciam se transformar, como se a própria natureza prestasse homenagem às palavras que estavam prestes a ser pronunciadas. Seu olhar era profundo, e um ar de mistério envolvia sua figura. O fogo, que anteriormente lançava uma luz amarelada, agora emitia tons azuis, e a atmosfera à volta parecia carregada de eletricidade.
Com uma voz firme e hipnotizante, o homem começou sua história. Contou que, uma vez, durante uma tempestade de areia que engoliu o horizonte, ele se separou de seu grupo e caiu em um buraco, um abismo nas entranhas da terra. Naquele lugar obscuro, o ar era gélido, de modo que sua respiração se congelava em pequenos cristais à medida que escapava de seus lábios. O eco de seus passos ressoava nas paredes de pedra, acelerando seu coração como os sussurros de sombras que pareciam guardar segredos há muito esquecidos.
Insetos e criaturas das profundezas estavam congelados no tempo, como se o próprio deserto tivesse esquecido desse canto oculto. O frio penetrava até seus ossos, formando uma camada fina de geada em suas roupas e criando um desconforto intenso em suas extremidades. Enquanto suas pegadas ecoavam pelos túneis escuros, ele sentia a passagem das luas e os suspiros invisíveis das estrelas, mesmo sem jamais vislumbrar o sol escaldante ou a noite estrelada.
Finalmente, após o que pareceram dias intermináveis, encontrou um caminho sinuoso que o levou a um aposento estranho, iluminado por tochas ardentes em um azul sobrenatural. O brilho azul parecia emanar das paredes, lançando sombras irregulares que dançavam pelo chão e pelo teto, como espíritos antigos se movendo em uma dança etérea.
No centro da câmara, uma estátua grotesca atraía sua atenção, causando-lhe uma sensação de repulsa misturada com uma estranha fascinação. A figura possuía rosto terrível, com milhares de braços desproporcionais, cada um com sua própria função singular. Em uma das mãos, segurava uma cimitarra dourada, enquanto em outra, um objeto estranhamente pulsante irradiava uma luz púrpura, como um coração cintilante. O brilho púrpura parecia pulsar em sincronia com as batidas aceleradas de seu próprio coração, criando uma conexão inexplicável entre ele e a figura esculpida.
O homem misterioso fez uma pausa, permitindo que as palavras ecoassem na noite. Seus ouvintes estavam enfeitiçados pela história, cada um sentindo a urgência de ouvir mais, mesmo que estivessem arrepiados pelo medo. Eles imploraram para que ele continuasse, para que descobrissem o que aconteceu em seguida.
Mas o homem apenas sorriu enigmaticamente, lançando um olhar em direção ao horizonte. As primeiras luzes do amanhecer começaram a se infiltrar, dissipando a escuridão da noite. "O sol já está a nascer", disse ele suavemente, com um tom de finalidade. "Outra hora, talvez, eu continue."
Os beduínos ficaram ali, sentindo o mistério pairar no ar como uma canção não terminada. O homem misterioso voltou a se sentar, um sorriso quase triste em seus lábios. O céu ganhou tons de rosa e laranja, e a fogueira, uma vez azul, voltou a queimar em um calor familiar.