A Casa de Corpos

Com os olhos arregalados ela via a criatura diante de sua face colada ao seu rosto. Era noite e estava escuro em seu quarto, mas ela via muito bem os olhos mórbidos, uma pele enrugada, uma boca fechada e uma cara assustadora em cima dela. Como de repente em um susto ela levanta e não ver mais nada a sua frente. Ela senta na cama, põe os pés no chão e se levanta em direção a sala. Tinha sido outro pesadelo seguido naquela casa desde que ela se mudou para lá.

Não era só os sonhos que estavam cada dia mais amedrontadores, mas toda aquela casa exalava medo. Cada vez que ficava na sala sentia uma presença ao seu lado. Sempre quando estava na cozinha sentia frios inexplicáveis e quando estava no banheiro sentia como alguém falasse baixinho perto dos seus ouvidos. Tudo parecia muito sinistro na casa. Natasha se mudou da cidade grande para uma cidade menor devido uma oportunidade de emprego que ela havia recebido a poucos meses atrás de uma empresa de mineradora que explorava cobalto naquela região que era rico desse minério.

Chegou na cidade sem conhecer nada do local, procurou uma residência onde pudesse ficar mais próximo do emprego, todas as casas estavam ocupadas no bairro que ela queria, apenas uma estava livre e ela ficava no alto de um monte mais distante de outras casas. Mais isolada e sem vizinhos por perto Natasha optou por essa casa. O corretor chegou no outro dia para finalizar a venda do imóvel. Ele não contou tudo sobre o imóvel apenas que era uma casa antiga bem conservada e que estava com pouco mais de cinco anos que não era ocupada. A casa apesar de antiga tinha sim o seu charme. Com colunas gregas bem grandes na frente com um grande alpendre, o chão era revestido com madeira, possuía grandes janelões na sala e nos quartos e tinha uma cozinha bem ampla. E o melhor o preço dela estava bem abaixo de uma casa daquele porte. Uma sensacional descoberta pensou Natasha.

No outro dia já chegou na casa para fixar residência como não tinha muitas coisas além de uma mala com roupas ela ocupou a casa. No primeiro dia nada suspeito aconteceu ou diferente do normal como ela era acostumada na casa dos seus pais, a única diferença é que agora morava sozinha em uma casa que era somente dela. Depois do meio dia ela saiu para comprar alguns móveis que precisava na casa, foi até a loja e comprou: armário, balcão, mesa, cadeiras, escrivaninha e por fim uma geladeira. Por enquanto foi somente isso que ela comprou até conseguir mais dinheiro para equipar ainda mais a sua casa.

Porém no terceiro dia em que Natasha estava em casa ela ouviu barulhos vindo de um quarto que era o que ficava mais acima da casa uma espécie de sótão. O som que fazia era como se fosse um choro de uma criança, ela seguiu o som e foi até o quarto que ficava no sótão e lá nada encontrou além de um quarto vazio, no entanto ela fixou bem o olhar na parede e começou a descascar um papel de parede meio rasgado que ainda estava na parede. Ela rasgou o papel de parede e percebeu que a textura das paredes daquele quarto era bem diferente tendo uma aparência que não parecia de uma parede comum. Rasgou ainda mais o papel de parede e viu pedaços de unhas junto com o cimento posto na parede ao descobrir o pequeno detalhe que existia ali ela se surpreendeu com o que tinha encontrado, mas não deu muita atenção ao ocorrido e saiu do ressinto. Naquela mesma noite Natasha se deita na cama e dorme tranquilamente, quando de repente sente um abraço forte nas suas costas. Ela se levanta sobressaltada caminha em direção a porta e sente um empurrão forte por trás a fazendo cair no chão. Se levanta rapidamente vai até a saída da casa e percebe que as coisas da cozinha estavam sendo jogadas brutalmente na parede, e as luzes se apagavam e acendiam freneticamente, no entanto não via ninguém ali. Então abre a porta para ir ao lado de fora, porém para o seu espanto mesmo dando voltas e mais voltas na chave a porta não abria, simplesmente não queria abrir, desesperada ela grita, arranha as paredes e grita por ajuda e então as batidas cessam e os objetos param de ser arremessado. Depois de tanto choro e desespero ela adormece ali mesmo na sala.

No outro dia ela acorda desorientada e corre para o lado de casa. Era o seu segundo dia de trabalho e não poderia simplesmente faltar. Ela então engole o medo adentra em casa, troca de roupa, pega os seus pertences e vai ao trabalho. No final da tarde receosa de voltar para casa, decide ir a um restaurante comer algo e beber algo para aliviar os seus pensamentos. Depois de alguns drinques ela toma coragem e volta para casa. Abre a porta silenciosamente e ver tudo numa tranquilidade e calma. De modo silencioso entra na casa, ainda com muito medo. Prepara o seu banho e vai para cama e nada tinha acontecido até aquele momento. Demora muito a dormir, porém cai no sono de tão cansada que estava. Escuta alguns passos em direção a sua porta e já fica assustada debaixo das cobertas. Depois ouve o mesmo choro de criança de quando ouviu no sótão. A tensão aumenta, pois, a cada minuto que passava os passos pareciam está mais perto da sua cama e então no susto se levanta e corre de novo para sala e lá ela ver o rosto de várias pessoas na casa. Eram os rostos de homens, mulheres e até crianças que a olhavam com os olhos inquisidores. Ela via também nas paredes pernas e braços amputados que se moviam assim como os olhos que a observavam. O chão passou a ter uma cor vermelha como sangue e ela ouvia várias vozes suplicando por ajuda, além do som de chicotadas que açoitavam peles e a rasgavam. Grita e corre para o quarto de cima da casa. Lá ela ver uma mulher negra vestida de branco com um turbante na cabeça que balançava calmamente uma criança de colo. Ao vê-la ela gira a cabeça bem devagar em direção a Natasha e dar o grito fantasmagórico que a fez desmaiar de tanto medo.

Natasha passa quatro horas desacordada, abre os olhos devagar, põe a mão na cabeça que doía e percebe que sua cabeça estava sangrando com a pancada que recebera. Ela se levanta ver que já é de manhã e nota que os rostos que estavam na parede já não estavam mais ali. Com muita dor deita novamente e fecha os olhos para aliviar a dor que sentia. Quando ela abre os olhos ela ver uma criatura horrível que parecia ser um homem esquelético olhando fixamente para ela, os olhos como uma chama a olhava com o seu rosto bem colado ao seu. Aquela criatura era o mesmo ser que ela via em seus sonhos desde que chegara em casa, mas ela sabia que tudo era um sonho. Mas agora ele estava lá de fato a encarando de perto com sua aparência de um morto vivo. Quando Natasha ia gritar a entidade põe a mão em sua boca e ela sente uma mão fria e firme a pega pelo o cabelo e a arrasta para cima de modo brutal até o quarto escuro.

As semanas haviam passado até que os seus pais que não conseguiam entrar em contato com sua filha vão até a sua nova casa chegando lá. Vem que a casa está devidamente arrumada e organizada, porém não encontram nenhum sinal de sua filha, preocupados pegam o celular para ligar para polícia para pedir ajuda, quando de repente vêm um velho do lado de fora no jardim espiando a casa por dentro. O seu pai curioso com aquele senhor decide ir até ele e pergunta.

------ O senhor conhecia a moça que morava aqui nessa casa?

O homem que aparentava ter para mais de oitenta anos de idade. Olha fixamente para o pai aflito de Natasha e responde.

------- Ela desapareceu não foi? Faz muito tempo?

O pai intrigado com a resposta do velho homem, afirma com a cabeça que sim. E pergunta como ele sabia que ela estava desaparecida à três semanas.

E então o homem diz:

------- Isso é bem comum de ocorrer nessa maldita casa, já tivemos vários casos de sumiço.

O pai sem entender nada ele pede ao senhor para explicar que vários casos de sumiços que foram esses. E dessa forma o velho começa a contar a história.

------- Vou contar a história ao senhor, porém eu espero que isso lhe sirva de consolo e que você não procure a polícia por que de nada vai adiantar.

E prossegue o idoso.

------ Essa casa pertencia a um senhor de escravos que morou nessa casa por quarenta anos. E na sua casa ele era soberano, ninguém poderia contestar as suas ordens e também ele era muito ruim com seus escravos. Fazia os seus escravos trabalhar até a exaustão máxima e muitos deles morriam pelo o trabalho excessivo, quando não morriam pelo o excesso de trabalho, eram mortos por não ter atingido a suas cotas. E dessa forma para não ser considerado cruel pelas outras pessoas da cidade ele dava um jeito de dar um sumiço no corpo dos seus escravos. Ele o desmembrava, triturava e o misturava com o cimento para depois servir como reboco da sua casa. Ele construiu toda a sua casa utilizando os restos mortais dos pobres escravos que padeciam sobre a sua crueldade. Um dos casos mais cruéis que toda a cidade ficou conhecendo foi quando o seu pequeno filho havia levado um tombo e quebrado uma perna, a criança tinha quatro anos de idade e era o grande amor da vida do fazendeiro. A culpa toda tinha sido de uma jovem escrava que depois que cometeu tal descuido foi torturada até a morte sem ao menos ter a chance de ser ouvida a sua acusação . Anos depois da sua morte a casa nunca mais foi a mesma, pois ela era assombrada por várias entidades que não descansavam depois de mortos. Vieram moradores e mais moradores que não conheciam a história e sempre era a mesma coisa, sumiço, desaparecimento e nunca mais eram vistos.

Depois dessa história toda o pai de Natasha escutava estarrecido a história daquele desconhecido que ainda acrescentava mais detalhe em sua história.

------ Muitos dizem que quem é consumido pela casa, fica na casa. Agora faz parte da argamassa de corpos humanos misturado com areia para formar a casa de cadáveres. Quem desapareceu aqui nunca mais foi encontrado.

O homem sem acreditar naquela história maluca, pois ela parecia tão absurda que era difícil de acreditar, saiu silenciosamente da presença daquele velho homem que ele já tinha certeza que deveria ser um louco e foi para junto da sua esposa e contou o caso. Os dois então decidiram ir a delegacia e contar todo o caso as autoridades.

Chegando na delegacia o pai de Natasha contou todo o caso e falou da onde ela havia desaparecido o delegado ouviu toda a história, mas desperançoso perguntou se ele tinha visto algum homem no jardim. Ele disse que tinha visto e tinha ouvido toda a história maluca daquele velho senil e então o delegado disse.

------- Toda vez que ocorre um desparecimento de alguém naquela casa, todos relatam a conversa com esse senhor, mas nunca encontramos uma informação sobre ele ou onde mora ou quem ele é. Dizem por aí que ele é um capataz da antiga casa que cuidava da plantação e dos escravos e se eu fosse senhor começaria a acreditar na história daquele velho homem.

Davi Freitas - 20/07/2023

Kaynne
Enviado por Kaynne em 20/07/2023
Reeditado em 21/07/2023
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