Noctâmbulo
[Continuação de "No silêncio da noite"]
Ao chegar para o turno da manhã, o capitão Pataki constatou que o policial József Csatár estava à sua espera.
- Bom dia, capitão.
- Bom dia, József. Veio apresentar de viva voz o relatório da sua noite de vigília na mansão Rosinger?
- Isso, capitão. Descobri algo que achei melhor vir lhe contar pessoalmente.
Pataki fez sinal para que o subordinado o acompanhasse até seu gabinete. Lá dentro, deu a ordem:
- Desembuche.
- Então... - principiou o policial. - Quando me apresentei para o turno de vigilância, no fim da tarde de ontem, a senhora Martina Fábián demonstrou surpresa. Perguntou quem havia pedido para que eu ficasse de guarda, e respondi: "seu filho".
- Qual foi a reação dela? - Questionou Pataki, braços cruzados.
- Pareceu ficar contrariada e disse: "eu devia imaginar".
- Até aí, nada demais - ponderou Pataki.
- Sim; depois, acho que aceitou a ideia e me levou até um antigo alojamento dos empregados. Me disse que eu podia dormir ali, e que iria fazer alguma coisa para o jantar. Naturalmente, eu havia levado minha própria refeição, e não pretendia dormir coisa nenhuma, mas fiz de conta que aceitei a oferta. Ela então foi para a cozinha da mansão e eu aproveitei para dar uma volta pelo terreno antes que escurecesse...
- Descobriu algo interessante?
- Há uma estrebaria próxima da casa; não restou mais nenhum cavalo, obviamente, mas encontrei algo que teoricamente não deveria estar lá: um Volkswagen bege da Wehrmacht, coberto por uma lona.
Pataki arqueou as sobrancelhas.
- O tal Volkswagen bege que o jornalista denunciou como estando por trás do sequestro das duas mulheres?
- É um Volkswagen bege, é tudo o que posso lhe dizer, capitão. Mas não creio que tenha sido usado recentemente; não há marcas de pneus entrando ou saindo da estrebaria, e está tudo bem empoeirado.
- Mas, obviamente, o tal carro existe - concluiu o capitão. - E durante a vigília, houve algo digno de nota?
- A senhora Fábián recolheu-se à mansão por volta das 20h, mas lá pelas 22h notei que havia alguém andando pela área externa da propriedade. Não sei dizer se entrou pulando o muro ou se estava escondido em alguma das construções do terreno, mas o certo é que desapareceu quando percebeu que estava sendo seguido. É alguém que conhece a área.
- Certamente - assentiu Pataki. - Talvez alguém que tenha se criado nesta mesma propriedade...
- Tem alguém em mente, capitão? - Indagou o policial.
- Tenho que dar uns telefonemas antes - desconversou o capitão. - Mas quanto a você, József, fez um bom trabalho. Agora, vá para casa dormir; nos vemos amanhã, no seu turno.
József Csatár ergueu-se, e antes de sair da sala, indagou:
- Vai mandar mais alguém para passar essa noite lá, capitão?
- Se as minhas suspeitas se confirmarem, talvez não seja necessário - redarguiu Pataki. - Acho que o caso está perto da conclusão.
E mais não disse, para desapontamento de József.
- [Conclui em "Meus lábios estão cerrados"]
- [16-07-2023]