Entrevista com o capitão
[Continuação de "Uma entre todas"]
Alguns dias haviam se passado desde a conversa em que a esposa lembrara a Viktor Fábián da sua relação difícil com a mãe. Ele acabara de entrar na redação do pequeno jornal onde trabalhava, o "Kalotúr Sztárja", sobretudo dobrado no braço, quando o editor-chefe, Attila Márton, acenou para ele do outro lado do salão. Fábián dirigiu-se para lá, passando pelas mesas onde poucos colegas datilografavam matérias ou analisavam textos.
- Já vou lhe passar a revisão da entrevista do prefeito... - anunciou preventivamente, antes de chegar à mesa do chefe.
- Não é isso, - atalhou Márton com ar satisfeito - apareceu um trabalho que você gosta de fazer, Fábián.
Viktor Fábián ergueu os sobrolhos.
- Bom... todo trabalho é trabalho.
Márton fez um gesto com a mão, como que minimizando o comentário.
- Há trabalhos e trabalhos, e você escreve bem. Vá até a chefatura de polícia e procure o capitão Pataki. Aconteceu uma coisa horrível.
E diante da expressão intrigada de Fábián com a aparente contradição entre a informação e a expressão de contentamento, acrescentou:
- Um assassinato. A polícia está investigando. Eu disse que iríamos dar todo o apoio às autoridades para cobrir a notícia com a maior atenção e engajar a população na prisão do criminoso.
- Mas... quem foi assassinado? - Indagou Fábián, mão no queixo.
- Uma mulher; ninguém importante ou conhecido, mas parece ser obra de algum maníaco. Pode render uma boa história.
Viktor Fábián fez um gesto de concordância.
- Está bem. Vou indo.
- Me mantenha informado - exigiu Márton, dedo em riste.
- Sim, chefe - respondeu Fábián, resignado.
* * *
Como se tratava de uma missão oficial, Márton havia autorizado o subalterno a ir até a delegacia dirigindo o Zaporozhets branco do jornal. Ele estacionou atrás da delegacia e entrou no recinto, onde uma alferes uniformizada o recebeu por trás do balcão de informações.
- Sou Viktor Fábián, repórter do "Kalotúr Sztárja" - identificou-se. - Vim ver o capitão Pataki.
A mulher olhou para a agenda aberta à sua frente e fez um aceno de cabeça.
- Fábián, do jornal... sim, ele vai recebê-lo. Aguarde um minuto que vou anunciar que chegou.
Usou o interfone para trocar algumas palavras em voz baixa com o interlocutor. Em seguida, apontou para o corredor que levava ao interior da delegacia:
- Terceira porta à esquerda, bata antes de entrar.
- Sim senhora - acedeu Fábián.
Fez como lhe havia sido recomendado e uma voz lá de dentro lhe disse que entrasse. Obedeceu. Diante dele, por trás de uma escrivaninha coberta de formulários, fotos emolduradas e suportes de carimbos, estava Kristóf Pataki, o delegado de polícia.
- Capitão Pataki - disse Fábián.
- Sente-se, Fábián - replicou o capitão, indicando uma cadeira à frente de sua mesa.
Fábián tomou assento e ouviu atentamente, enquanto o policial falava.
- O problema de se viver numa cidade pequena, - declarou ele, mãos entrelaçadas sobre a mesa - é que a gente se desacostuma do crime tal qual é praticado nos grandes centros. Particularmente homicídio.
- Não foi roubo seguido de morte? - Questionou Fábián, puxando um bloco de notas e uma caneta do bolso do sobretudo.
Pataki abanou negativamente a cabeça.
- O assassino não parece ter levado nenhum pertence da vítima... relógio, aliança, bolsa, dinheiro... estava tudo lá.
- Foi uma mulher?
Pataki fez um gesto de concordância.
- Mulher, 54 anos, casada. Violência sexual seguida de morte por enforcamento.
Abriu uma gaveta da escrivaninha e retirou um envelope, do qual retirou uma única foto em preto e branco.
- Tiramos essa no necrotério, não é da cena do crime.
Como Fábián parecesse hesitar, ele tranquilizou-o.
- É apenas uma foto do rosto da vítima. Não vamos publicar no jornal, de qualquer forma. A família deve fornecer uma de quando ela estava viva para este fim.
Fábián apanhou então a fotografia e a encarou com estranheza.
- Mas parece com a...
Pataki balançou a cabeça.
- Eu sei. Parece a Dorka Bognár, a apresentadora de TV. Meus patrulheiros me disseram a mesma coisa.
Não foi isso o que passou pela mente de Fábián, mas ele preferiu fazer silêncio, devolvendo a foto para o capitão.
- Quando o corpo foi encontrado?
- Ontem à tarde, na floresta. Devia estar lá há uns cinco, seis dias. O marido já havia dado parte do desaparecimento, mas achamos que poderia ter sido apenas uma briga de casal.
Guardou a foto no envelope e suspirou, recostando-se na cadeira giratória:
- Ninguém esperava por isso.
- [Continua em "Força pela Alegria"]
- [09-07-2023]