A MOÇA DA SAIA CURTA

"A Moça de saia curta", assim era conhecida a Mena, uma moça que apareceu do nada em uma certa vila, sem pais nem familiares por perto. Ela se tornou uma prostituta muito famosa, mas as coisas não começaram por aí. Mena nasceu e cresceu em uma cidade grande. Depois de algum tempo, por circunstâncias da vida, ela passou a morar em uma pequena vila que servia como corredor de acesso a outras cidades ao redor. Mena era famosa naquela vila, e qualquer homem que visitasse o local procurava por ela. Ela atraía homens que saíam das cidades grandes em busca do prazer sexual que só Mena podia oferecer em troca de dinheiro. No entanto, ela não aceitava nenhum homem que morasse na mesma vila que ela, pois dizia que eles eram pobres e não podiam levá-la a lugar nenhum, trariam mais sofrimento para sua vida.

Em uma noite, Mena ouviu fofocas sobre um homem que acabara de chegar na vila e procurava por ela. Isso não era novidade para ela. Este homem vinha da cidade grande e decidiu passar a noite naquela vila. Depois de ouvir isso, Mena correu para sua cabana e vestiu sua saia curta para seduzir o homem. Minutos depois, o homem foi ao encontro dela. Assim que Mena olhou para ele, notou muitas coisas diferentes nele. Seu comportamento era diferente dos homens brutos que ela recebia comumente, e sua pele e olhos eram tão chamativos. Naquele momento, ela pensou que conhecia aquele homem de algum lugar, mas tinha muitas dúvidas e não tocou no assunto, apenas quis satisfazê-lo. Então, de forma rude, Mena perguntou:

- Quem és tu e o que precisas?

- Preciso encontrar uma moça chamada Mena e fui indicado a esta cabana!

- Esta cabana é tudo que tenho, e eu sou a Mena. Tu deves ser o homem que acabou de chegar na vila!

- Sim, sou esse homem! E como soube que acabei de chegar na vila? Não faz muito tempo que estou aqui.

- Olha, eu sou a "Moça da saia curta". Assim como soube de mim, acabei sabendo de ti.

Naquele instante, o homem olhou para a moça e pensou que ela podia ser uma vidente e não a moça que ele procurava, já que ela morava numa cabana e pouco se envergonhava em assumir que era uma prostituta. Com muita confusão em sua mente, então perguntou:

- Olha, eu estou aqui por destino?

A Mena sorriu e ironicamente respondeu:

- Claro que não estás aqui por destino, mas sim por fofoca que ronda na vila. Sabe, o destino se esqueceu destas bandas. Eu sou apenas uma prostituta.

Admirado, o homem notou o sentido da fama que ela tinha na vila de ser conhecida como "A MOÇA DA SAIA CURTA". E percebeu que aquela era a moça que procurava. Em seguida, disse:

- Minha vida toda procurei por ti, Mena. E aliás, hoje o destino voltou a rondar por essas bandas. Prazer, eu sou o Carter, sou um jornalista.

A Mena, com um olhar agudo, disse ao Carter:

- Deu para perceber que não eras caminhoneiro, muito menos comerciante. Eu notei algo diferente em ti. Tu és muito diferente dos estúpidos que têm visitado a vila nesses últimos tempos. Me diz, homem, o que realmente precisas? Além de sexo, eu não posso oferecer mais nada.

O Carter, notando que tinha ganhado em dobro a atenção da Mena, então respondeu:

- Precisamos conversar.

- O que ganho com a conversa? Se eu ficar aqui conversando, não terei o que comer.

- Senta, hoje tu vais comer, descansar e ter alguém para escutar teus problemas de graça.

- Certo, o que queres saber?

- Relaxa, Mena! Por que essa vida?

A Mena ficou indignada e com um sorriso maroto. Então perguntou:

- Por que a conversa tinha que ser sobre essa palhaçada? Não é tão simples como parece. É longa a resposta da sua pergunta. Vejo que és um senhor muito adulto, não terás forças para ficar muito tempo me escutando. Procura um lugar para dormir e reserva as forças para continuar com a viagem amanhã.

- Eu tenho a noite toda, estou sem sono e ansioso para ouvir e escrever sua história. Amanhã eu posso dormir durante a viagem.

Depois de tanta insistência por parte do Carter, então a Mena decidiu contar sua história, uma história que nem ela mesma sabia por onde começar. Xingando Carter, ela disse:

- Vovó, eu não nasci nesta vila mesquinha. Também sou da cidade grande e espero um dia sair daqui. E seguiu contando:

Eu nasci e cresci na civilização. Fui criada com a minha mãe. A gente vivia com meu padrasto. Nunca conheci meu pai. Um dia, minha mãe contou-me que, quando ela estava grávida, meu pai saiu de casa dizendo que iria atrás de emprego para melhorar as condições de vida e nunca mais voltou. Ela ficou muito tempo deprimida. Depois de um tempo, eu nasci e ela casou-se com meu padrasto. Eles nunca foram felizes, sempre discutiam. Minha mãe trabalhava na roça, muito distante da cidade. E meu padrasto trabalhava numa fábrica nos arredores da cidade. Por muito tempo ele ficava comigo em casa e nunca conversamos, e nunca me tratou diretamente como uma filha. Quando eu tinha 12 anos, numa noite como esta, minha primeira menstruação começou. Eu não sabia o que estava acontecendo. Minha mãe não tinha tempo para ter essas conversas de mãe para filha, porque ela sempre estava ocupada. E naquela noite, apenas meu padrasto estava em casa e, infelizmente, eu não tive ninguém para recorrer.

Continuando:

Meu padrasto ouviu os choros vindos do meu quarto e não fez nada, mas eu entendo, porque tudo era estranho para mim também. Acredito que ele já sabia o que estava acontecendo, e a partir daquela noite tudo mudou.

Alguns dias se passaram e ele começou a olhar para mim de uma forma estranha, passando mais tempo em casa do que antes. Antes, ele saía cedo e voltava tarde. Naquele momento, ele saía tarde e voltava cedo. Quando ele estava em casa, não tirava os olhos de mim. Não demorou muito para ele começar a acariciar meus seios e me chamar por nomes.

"Nomes?", perguntou Carter, com uma caneta na mão e uma pilha de folhas anotando tudo o que Mena dizia.

"Sim, nomes, Sr. Jornalista", respondeu Mena e continuou contando.

Ele me chamava de nomes como "querida", "princesa" e "amorzinho". Ele já não me tratava por "você, Mena", como antes. No início, achei estranho, mas quando minha mãe voltava para casa, eu contava o que estava acontecendo e ela dizia que era fruto da minha imaginação. Ela não queria arruinar o casamento dela, pois aquele foi o único homem que a acolheu quando meu pai fugiu durante a gravidez. Quando minha mãe estava em casa, eu me sentia protegida, pois ela era a única pessoa em quem eu podia confiar. Não cheguei a conhecer outros familiares. Mas quando ela ia para a roça, tudo desmoronava. O inferno continuava a pegar fogo. Eu não podia seguir, pois estava frequentando a sétima classe em uma escola perto de casa. Não demorou muito para meu padrasto começar a me oferecer presentes, dinheiro e comprar roupas íntimas para mim. Ele comparava tamanhos grandes e dizia que eu tinha que experimentar na frente dele para ele comprar o tamanho certo na próxima. Ele foi muito esperto, o desgraçado. Então ele começou a visitar meu quarto durante as noites, como um parasita. Ele tocava minhas pernas e só de lembrar das barbas dele tocando meu rosto, me dá um calafrio. Não demorou muito para ele conseguir o que tanto queria: minha virgindade. Eu não tive escolha, porque ele ameaçou machucar minha mãe. Ele sabia muito bem que ela era a única pessoa que eu tinha, e por ela eu faria qualquer coisa. Naquela época, eu não podia recorrer a ninguém.

Perturbado com tudo aquilo, Carter perguntou: - Você disse que sua mãe era a única pessoa que você tinha na época. Onde ela está?

Desta senhora, eu nunca me esqueço. Ela sofreu um acidente quando voltava para casa e perdeu a vida. Por um tempo, meu padrasto casou-se com outra mulher que tinha uma filha da minha idade na época. Ele me mandou embora de casa, sem ter um lugar para ir, sem escola para estudar. Por um tempo, dormi nas ruas do centro da cidade. Algumas pessoas ajudavam com roupas e dinheiro, mas nada era suficiente. Foi nesse momento que decidi sair daquelas ruas e recomeçar em outro lugar. Usei o dinheiro que as pessoas me davam para sair da cidade, mas não fui tão longe assim e acabei chegando a esta pequena vila. No início, as pessoas me receberam bem, mas eu não sabia fazer muitas coisas, como trabalhar no campo, e acabei ficando sozinha como sempre. Moro nesta cabana desde que cheguei aqui.

Mena percebeu que Carter havia parado de escrever e estava lacrimejando. Ela quis saber por que Carter estava chorando. Carter tentou enxugar as lágrimas e disse:

- Olha, Mena, eu não sei por onde começar e não estou aqui por acaso. Eu sou o culpado por essa desgraça.

- Como assim és o culpado por esta desgraça? O que tens a ver com a minha vida?

- Como eu disse, não sei por onde começar, mas pesa no meu coração dizer isso, mas eu sou o seu pai. E o Carter continuou dizendo:

Sim, filha, por anos procurei por ti. Na verdade, no passado, durante o período em que sua mãe estava grávida, recebi uma proposta de emprego numa rádio fora do país. Fui muito tolo em pensar que, ao dar essa notícia, tua mãe não aguentaria e recorreria ao aborto, sem esperanças de um dia eu voltar. Tomei a decisão de ir embora sem ela saber, porque pensei que seria por pouco tempo. Desculpa, filha, desculpa por tudo. Amanhã, vamos sair desta vila e recomeçar longe de tudo isso.

Mena, muito perturbada e sem acreditar no que estava acontecendo, pediu que Carter calasse a boca. Mas Carter insistiu para que ela pensasse. Depois de alguns minutos, Mena aceitou pensar, pedindo que ele a deixasse sozinha. Depois de alguns momentos de reflexão, Mena pediu algo que provasse que Carter realmente era seu pai. Assim que Carter mostrou as fotos e mencionou sobre a fundação da machamba onde a mãe de Mena passou a vida trabalhando, Mena ficou sem palavras, pois as provas e as histórias que Carter contou coincidiam exatamente com o que sua mãe havia lhe contado. Depois de muita confusão, eles decidiram se entender. No dia seguinte, bem cedo, eles saíram da vila e ninguém mais ouviu falar da Moça da Saia Curta.

Nélio Da Costa José
Enviado por Nélio Da Costa José em 08/07/2023
Código do texto: T7831880
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.