Mistérios da Meia-noite
A mulher entrou em meu escritório. Era uma sala escura e nem um pouco convidativa. O cheiro de cigarro vagabundo e urina impregnava o ar. O que fazia do meu escritório um lugar não muito bem buscado por pessoas.
Sei que precisava buscar outro lugar para ser meu escritório, porém os dias estavam ruins como a cerveja barata que eu tinha que tomar para poder me levantar.
A mulher, uma bela morena de pele branca e olhos amendoados, puxava uma cadeira para se sentar. Seu olhar era triste e desesperado. Ela puxa um cigarro de seu bolso e coloca na boca. Faço meu papel de cavalheiro e acendo o mesmo e espero que ela dê uma bela tragada.
Depois de alguns minutos ela fala que é mãe. Tem uma filha. Então puxa uma foto e mostra o rosto de uma garota parecida com ela. Faço um elogio para a beleza das duas, mas ela não parece se importar muito com as minhas palavras.
Então ela comenta que a filha é um pouco rebelde e de espírito livre. Como uma boa mãe, ela tentou alertar aos perigos que o mundo trazia para jovens garotas, porém a menina não queria ouvir e fugia constantemente. A garota sempre ia até a casa do professor, um homem estranho e que vivia sozinho. Até o dia que desapareceu. A mulher obviamente denunciou o homem, mas a polícia foi incapaz de provar qualquer coisa envolvendo o professor.
A mãe sabia que o professor era culpado. Seu sentido de mãe dizia isso e ela buscava o meu serviço para provar a culpa do homem.
Eu não estava em condições de recusar um serviço e aquele me pareceu bom. Então aceitei sem questionar. Afinal, qualquer coisa era melhor que nada.
A mulher se despediu e saiu. Fui até a pequena geladeira onde guardava a cerveja e bebi um copo. Então ajeitei o terno velho que ainda usava e coloquei um chapéu. Só depois saí para a rua fria e escura.
Com o endereço do professor, eu me dirigi para a residência.
Era uma sexta-feira. O último dia de aula por aquela cidade. Era noite e as luzes eram fracas. Eu seguia com as mãos no bolso. Quando cheguei a alguns metros da casa, me sentei e fiquei vigiando o professor.
Eu usava um binóculos que podia ver o calor humano através das paredes. Uma grande conquista do tempo que eu era um detetive mais bem procurado. Porém o mundo tinha mudado e a tecnologia já deixava o trabalho de detetives sem nenhum valor. Mas eu era um detetive à moda antiga e me orgulhava daquilo.
Naquela noite só pode confirmar uma coisa: o professor era maluco! Ele ficava gritando como se uma fera estivesse tomando conta de seu corpo. Ouvia os gritos até não aguentar mais. Fui para casa para poder determinar o que faria agora.
Se o professor tivesse algo com o sumiço da menina, então ele fez algo muito ruim com ela. Homens violentos tendiam a ser extremamente perigosos para a sociedade. Mas eles geralmente tinham suas origens na própria família.
Então decide buscar na árvore genealógica do professor alguma evidência de problemas. Fui até o cartório da cidade e cobrei alguns favores antigos. Tudo que descobri não trazia nenhuma evidência que me chamava a atenção.
O nome do professor era Luison, um castelhano nascido na Argentina e que veio ao Brasil ainda novo. Era filho de uma mãe solteira, sem pai registrado, tinha outros seis irmãos mais velhos. Na sua cidade teve vários relatos de ataques de lobo-guará, o que fez a família vim para esse lado da fronteira.
Filhos de mãe solteira poderiam sentir falta de um pai, mas isso não justificava violência. Então tentei descobrir se a mãe era super protetora ou violenta. Tudo que descobri era que a família era tão normal como deveria ser.
Por fim achei melhor ir ver a casa do professor novamente. Quando cheguei notei um lobo-guará me encarando. O animal não era muito comum pela nossa região e a última vez que vi foi em uma nota de 200 reais que tive que me desfazer alguns minutos depois.
O animal passava certa simpatia e sensação de paz. Até tinha me esquecido sobre os supostos ataques desse animal. Ele se aproximou de mim e roçou sua cabeça em minhas pernas. Não pude resistir e passei a mão em uma cabeça em um leve cafuné.
Como se fosse uma pessoa, então decide contar a ele sobre tudo. Como era a minha vida e como conseguir aquele serviço. Como eu desconfiava que Luison era um psicopata e um pedofilo. Eu iria descobrir tudo e por isso iria sempre verificar a casa até descobrir seus segredos.
Com o tempo o lobo-guará se tornou minha companhia permanente. Até me seguia em casa e no escritório. Todos os meus passos eram vigiados pelo animal. Eu tinha certeza que aquele ser era o único amigo que eu tinha.
Então um dia descobri a verdade. A menina não estava interessada no professor, mas no lobo. Seria possível que o lobo estivesse tentando me proteger? Se fosse assim, então o professor matou a menina e só o lobo sabia. Aquele animal fofo era um verdadeiro amigo. Meu único amigo.
Morte de detetive choca cidade!
Corpo do detetive Maurício Jr. Foi encontrado esquartejado em uma viela
Maurício Jr., 45 anos, morador de Restinga Sêca RS foi encontrado morto no Bairro São Luís. A perícia constatou que o homem foi esquartejado com requintes de crueldade. A cidade ficou chocada com o ocorrido.
Maurício era detetive particular já alguns anos, mesmo que a profissão não fosse tão popular, ele dizia que fazia por amor. Porém nos últimos dias se descobriu muitas dívidas com agiotas e outros grupos para pagar dívidas conseguidas por anos.
A polícia civil, do município, trabalha com a suspeita de assassinato por essas dívidas.
Maurício Jr não deixa filhos e vivia sozinho.