NOITE JUNINA
Sob o belo e risonho luar do sertão a fogueira crepita lançando fagulhas e fumaça no ar. É junho e o barulho dos fogos, a gritaria dos pares dançando quadrilha e a correria da meninanada agitam a noite. Só se vêem sorrisos, abraços, diversão e entusiasmo. A tristeza tirou folga nessa noite enluarada, os problemas se foram momentaneamente, desapareceram os conflitos.
Porque em meio ao divertimento todos se soltam e esquecem tudo de ruim, deixando-se levar pela folia do instante. Ali num cantinho meio escuro um casal jovem se dá por inteiro em carícias e pegadas, acolá um idoso assa milho na brasa da fogueira feliz e banguela, já adiante o sanfoneiro dedilha sua doze baixos, acompanhado da zabumba, do bumbo e do chocalho, esquentando o grupo dançarino no forró junino.
A fumaça tóxica do fogo alto incomoda os enfermos nas áreas circunvizinhas por onde flutua, causando tosse, nariz entupido e irritação. Não apenas os pagodeiros felizes permanecerão insones nessa noite de junho, mas também aqueles que, embora ausentes, se fazem presentes através da passagem venenosa do fumaceiro abusado.
Contudo, esse mosaico diversificado que é a vida certamente inexistiria sem o mesmo sabor caso os tons de sua composição tivessem unicamente o toque incolor do cinza ou qualquer outra cor singular. Pois é justamente a pluralidade dessa aquarela, ainda que composta de dor, risos, prazeres e sofrimentos, qua a torna fascinante e atraente.
Os festejos de junho e a agonia dos doentes passarão como tudo no universo humano, mas a caravana da vida prosseguirá seu curso. E nessa jornada excitante muitos tombarão e outro tanto nascerá, num ciclo que, num dia ainda não conhecido, aliás é muito bom não ser, chegará ao fim.