CAPAINHA QUE TOCAVA SOZINHA
No final de um longo dia de trabalho, finalmente cheguei em casa às seis horas da tarde. Sentindo-me cansado, preparei um café reconfortante e me acomodei no sofá para desfrutar das notícias transmitidas pela televisão. Era um momento de descanso muito esperado, mas logo fui interrompido pelo som insistente da campainha.
Levantei-me, um tanto contrariado por ser interrompido em meu merecido momento de tranquilidade, e fui atender à porta. No entanto, ao abrir, não havia ninguém à vista. Inicialmente, pensei que poderia ser alguma brincadeira de crianças travessas, um toque rápido seguido de uma fuga rápida pelas ruas. Dei de ombros e retornei à minha posição no sofá, retomando o noticiário na televisão.
Para minha surpresa, a campainha tocou novamente. Dessa vez, decidi ser mais ágil, com o objetivo de flagrar o possível autor da brincadeira antes que ele conseguisse escapar de minha visão. Mas, assim como antes, não havia ninguém presente. Comecei a sentir uma leve inquietação, mas decidi ficar próximo à porta, determinado a surpreender a pessoa responsável por essa confusão.
Esperei ali, encostado na porta, por cerca de dez minutos, mas nada aconteceu, mas ela tocou novamente pela terceira vês. Fiquei com medo e preocupado... mas eu não poderia dormir sem resolver o mistério... ou deixar que ele, o mistério ficasse insolúvel.
Desaparafusei cuidadosamente a campainha e me deparei com a verdade surpreendente. Dentro do mecanismo, encontrei uma lagarta morta. Ela havia encontrado seu destino final dentro do dispositivo elétrico, e sempre que os fios entravam em contato com seu corpo, o circuito era fechado, fazendo com que a campainha tocasse. A pobre criatura, inadvertidamente, havia se transformado em uma causa inexplicável de intranquilidade em minha noite. Era apenas um fenômeno natural, como a maioria são.
Por vezes o mistério que aparentemente são inexplicáveis, estão escondidas em circunstâncias inimagináveis. Este conto é recontado e acontecido com Antonio Mello, meu pai.
Neri Satter – Junho de 2023 - CONTOS DO SCARAMOUCHE