SONHO OU PESADELO?
As crianças entravam na fila segurando bacias coloridas e colher, sorrindo felizes pelo que estavam prestes a receber. Dividiam a espera com adultos, eles também levando suas bacias com colher. Lá na frente o banquete, fartura excepcional de comida exagerada.
Cada um deles enchia a própria bacia com um volume absurdo de alimentos: arroz, macarrão, farofa, feijão, verduras, legumes, três tipos de carne, batata, pão e frutas variadas. A bacia transbordava comida, certamente contendo em torno de cinco mil calorias. Depois de tanta carga no recipiente a meninada sentava em qualquer lugar ao lado dos demais e todos comiam. Comiam. Comiam igual aos animais, sem parar, ávidos, famintos, por demais famintos, sem nunca saciar-se.
Ao fim, depois de comer tudo deixando as bacias vazias, voltavam para a fila para nova rodada. Como num pesadelo de fome explosiva e gula insuperável. A comilança acontecia numa praça da cidade, mas ninguém sabia o motivo daquele círculo alimentar aterrador, e os comensais davam a impressão de ter um buraco sem fundo no estômago, impossível ter ideia de para onde ia tanta comida. De onde saíam tantas refeições? Incógnita. Mistério. Caíam do céu? Como se brotassem do chão ou do nada, prontas para serem servidas. Ali não havia como morrer de fome, talvez por comer demais e demais até estourar. Sonho ou pesadelo?