MORRI NO ELEVADOR

Eu realmente deveria ter descido pela escada, senti essa premonição desde o momento em que pus os pés no elevador. Havia nele algo diferente, e me pareceu inexplicável estranho, pelo menos meu coração assim bradava no peito. Decisão muito difícil para mim, pois moro no décimo quinto andar do edifício. Além do mais, notineiramente costumo buscar a maneira mais rápida de chegar ao andar térreo e não seria um mero pressentimento a me fazer descer quinze lances de escadaria.

Escutar a voz do sentido extra teria sido melhor, logo pude comprovar, porque a caminho do décimo andar o elevador travou após inesperado impacto que me desequilibrou. Esperei alguns minutos, talvez voltasse a funcionar sozinho. Mas isso não aconteceu. Peguei o interfone e liguei para a portaria, ou pelo menos tentei tendo em vista que não funcionou. Mais uma vez, nada; outra, sem resultado.

Foi então que comecei a me preocupar, fui assaltado por um princípio de súbito pavor. Saquei o celular do bolso e logo vi que não tinha sinal. Acionei dados móveis mas não adiantou, esqueci de por crédito. Guardei-o olhando o quadrilátero em que me encontrava, mil pensamentos rodopiando o meu pequeno espaço mental. Ninguém sabia que eu estava preso ali, mais uma desvantagem de morar sozinho. Eu daria meu reino por companhia feminina naquele momento bizarro. Pelo menos conversaríamos rindo da situação, aproveitaríamos para estreitar nosso relacionamento.

Espanquei a grossa porta de aço, gritei por alguém, o coração acelerou ainda mais. Respondeu-me o silêncio. Sentei quase sem perceber pensando nos compromissos agendados para daqui a pouco. A vida perpassou-me em ondas mentais, lembrei do ontem, das coisas fúteis, dos sonhos, medos, angústias, amores que tive, tudo dos meus anos foi recontado e historiado na prisão das recordações e do quadrado que me engoliu.

Por que nenhum outro morador chamara o elevador? Quanto tempo havia passado desde sempre? Perdi a noção. O que mais fazer no exíguo campo de um elevador travado além de refletir, ter esperança de ser resgatado logo e se desesperar? Por instantes uma nuvem escura e vazia de ideias me cobriu por inteiro. Desmaiei. Talvez tenha batido a cabeça, tamanha era a dor. E tinha as vozes irreconhecíveis, mãos me agarrando, barulho de algo sendo arrastado. Eu estava morto ou atolado num pesadelo? Notei que me carregavam porque meu corpo chacoalhava. Acordei no interior da ambulância com seus clamores pelas ruas da cidade.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 21/05/2023
Código do texto: T7793897
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