A SEGUNDA CASA

Aquela dolorosa sensação de abandono e indiferença ameaçadora de tristeza e lágrimas. Todavia, reconheço, nenhum direito tenho de entristecer nem de chorar. Porque um dia, sem olhar para trás um só momento, também abandonei e fiquei indiferente aos que choravam enquanto eu os largava. Assim, em virtude disso e de tanto mais, a mim cabe apenas o direito de aceitar e ainda, regojizado, agradecer a Deus pela oportunidade de refletir sobre os males e dores outrora causados a inúmeros.

O banho de sofrimento do qual fui autor e personagem principal, as pontas das flechas que atirei, perfurando a carne de pessoas amadas, o tempo se encarregou de extraí-las e joga-las de volta contra mim. Por merecimento. Como bumerangue, elas foram, feriram e arrancaram gemidos, mas depois, no momento certo, pararam de realizar o sofrimento dos outros e em contrapartida foram arremessadas contra mim. Com força dupla. Daí senti o impacto sobremodo duro das feridas que provoquei.

A princípio, jamais imaginei que elas se voltariam contra mim algum dia, estava feliz demais vivendo a nova vida, o novo e maravilhoso romance, e a felicidade, embora frívola e efêmera, nos deixa cegos à mágoa dos demais. No entanto, após a semeadura, boa ou má, a implacável época da colheita havia de chegar. E veio, não dependendo de nossa vontade colher ou não. Porque é imperioso apanhar todos os frutos resultantes das sementes plantadas. Se plantar tem que colher!

Assim como maus foram os grãos jogados à terra, maus também brotaram seus frutos. E de um jeito ou de outro, se não fosse pelo amor seria através da dor, eu, o semeador impensado, tinha a obrigação de, sozinho, colher chorando o que semeei sorrindo. E além do mais agradecendo Àquele que tudo pode, tudo vê e tudo sabe, posto ser Ele Onipotente, Onisciente e Onipresente. Exatamente, " em tudo dai graças!"

Em meu coração sendo grato sim, visto que o fato de minha alma atravessar o deserto acontece para seu próprio aproveitamento, pois a momentânea tristeza será ínfima e superada pela extrema glória vindoura. Ser admoestado pelo santo Pai por atos e atitudes pecaminosas é motivo de glória, pois qual pai sensato não corrige o filho flagrado em erros? Mais ainda deve ser com o santo e eterno Pai. Sabemos que no instante da admoestação nossos corações murcham em desespero, mas logo percebemos quão importante para nosso crescimento espiritual foi ter sido chamado à atenção e ser obrigado a colher tudo que foi plantado. " Maior é a glória da segunda casa. "

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 30/04/2023
Reeditado em 01/05/2023
Código do texto: T7776970
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