A EMPATIA DOS DESVALIDOS
São tantas as coisas que tenho para contar, os sonhos para dividir, os desejos para compartilhar! Ninguém quer sentar ao meu lado e ouvir tudo que me vai na'lma e no coração, não há um só com disposição para se debruçar sobre meus relatos e narrativas. Contorcem-se de enfado, alegam afazeres, inventam compromissos, fogem de me ouvir ou ler. Só me resta então falar ao vento, dialogar com as pedras, assobiar aos passarinhos, ouvir as estrelas e namorar as flores.
Talvez a brisa dê atenção aos meus clamores antes de dobrar as esquinas e farfalhar as folhas. E sussurre as respostas que procuro. Se faltam mãos femininas com carícias pedirei que ela me afague os cabelos, roce suavemente meu rosto. Os loucos e os solitários se deixam levar pela imaginação quando lhes são indiferentes. Vencem o desprezo com a suavidade dos devaneios e a total entrega aos primeiros albores do amanhecer. À vinda do crepúsculo abraçam o por do sol, qualquer quimera é quase suficiente para enganar a carência e o abandono.
Quem sabe os idosos desprezados nos abrigos, tão necessitados de amor quanto eu, ouçam as coisas que tenho para contar. Deixados à própria sorte, morrem de emoção quando recebem a visita de desconhecidos, quem quer que seja. Até eu. Porque a mim se assemelham e muito mais que eu têm eles mesmos um universo de experiência para compartilhar. Sim, repartirem com eles o pesado fardo da solidão. Eles me ouvirão, eu os ouvirei, a exata empatia simbiótica dos desvalidos.