OS QUATRO RISCOS PRETOS NO CÉU
Ele procurava pássaros, sobretudo aqueles difíceis de encontrar, os que estão na lista dos quase extintos ou em vias de extinção. Viu apenas abutres, quatro deles voando placidamente a uma altura considerável. Não gostou daquilo, parecia mau agouro, avisos sobrenaturais. Bobagem, tentou se convencer, não era homem dado a superstições. Talvez e certamente eles estavam ali somente por estar, nada demais. Eram aves, certo, mas não passarinhos. Bom, possuíam asas e voavam, embora fossem de aparência desagradável e despertassem medo, pavor atávico dir-se-ia. Bobagem, pensou novamente.
Direcionou sob displicência o binóculo para os bichos feios, quatro riscos pretos rabiscando o céu para lá e para cá. Desgostou do que viu, davam náuseas. Cara chato! Disse para si mesmo. Que passeassem no espaço, tinham o direito da distração. Ou da observação. Era isso, será que o observavam? Espere, por que fariam tal coisa? Ora, ele não estava morto, nada aparentava de carniça, viera até o local para observar pássaros bonitos e raros. Antipatizava com abutres. Mas onde estavam as aves belas?
Súbito, um dos riscos pretos desceu num voo rasante, depois mais um, a seguir o terceiro e por fim o último. O que significava aquilo? Vinham velozes no rumo dele, bicos em riste, olhares firmes e decididos. Sabiam para onde iam, determinados, prontos para o repentino e inesperado ataque. Qual o motivo? O observador de pássaros, desesperado e perplexo, correu deixando cair o binóculo. Sua atitude, porém, só aguçou ainda mais a sanha de caçador dos quatro. Estranho, abutres não caçam, são oportunistas que aguardam a possível morte de possíveis alvos. Se aqueles quatro horrendos sabiam disso não se importaram, pois em poucos segundos caíram de bico sobre o indefeso e solitário homem que observava pássaros e atacaram ao mesmo tempo.