A MOÇA LINDA E ESTRANHA
Não sei por que razão minha ex mulher, de quem já estou separado há anos, ligou e pediu para me encontrar com o intuito de debater certas questões legais que, na opinião dela, não estavam muito claras. Embora sabendo de antemão que tudo foi debatido exaustivamente durante a conciliação do divórcio, nada mais havendo para discutir e resolver, me comprometi e fui ao encontro dela num shopping da cidade.
Eu não estava realmente preparado para me deparar com o que vi ao por os pés na praça de alimentação do shopping. Ela tinha chegado primeiro, parecia tranquila e descontraida, mas minha surpresa foi perceber que, não s o com que objetivo, levou por companhia uma bela e estonteante mulher morena de parar o trânsito. Ao apresentar-me à amiga, também não entendi o motivo, minha ex disse que eu era médico, mais precisamente dermatologista. Fiquei meio sem graça, disfarcei, porém não desmenti a afirmação.
Na conversa, ela relatou que a amiga sofria de uma grave doença no braço esquerdo e precisava ser examinada. Um tanto desajeitado ao ouvir isso, nem notei a manobra da ex em nos conduzir para o carro dela, parecendo clara sua intenção de irmos ao "meu consultório" com a perspectiva de examinar o braço da jovem exuberante. De tão perplexo, deixei-me levar pelas duas. Foi quando, já no interior do carro, notei a inexistência de qualquer lesão, ferida ou laceração no braço da linda mulher. O que pretendia minha ex diante daquela deslavada mentira? Levado pela curiosidade, eu nada disse, esperei para saber até onde a palhaçada ia e quanto duraria.
O ambiente no carro se mostrava descontraído e amigável, dávamos a impressão de bons amigos num passeio de domingo. O mais surpreendente foi quando concluí que íamos para minha casa, "meu consultório" nas palavras da ex. Para não ser chato, participei da comédia o tempo todo, me fazendo de médico. Doideira sim, mas fiz por pirraça. No nosso destino, descemos, abri a porta da casa, entramos. Então aconteceu. De repente a, se me permitem, gostosona esticou o braço na minha direção e falou: "veja!" Quase enfartei tamanho foi o susto. O braço dela, antes sedoso saudável e atraente - aliás, como tudo nela -, cobria-se agora de uma podridão inacreditável, com pedaços de pele caindo e larvas de vermes se alimentando da carne putrefata. O que houve? Como tamanho pesadelo explodiu aos meus olhos configurada naquela danosa metamorfose? Saí dali correndo feito louco, sem rumo, apavorado.