VOCÊ NÃO NASCEU

Qualquer ser humano para nascer precisou ter uma incalculável ascendência provavelmente oriunda do princípio dos tempos. Em primeiro lugar, um homem e uma mulher se uniram em matrimônio numa era remota impossível de ser determinada. Por óbvio, claro, ambos nasceram de casais que vieram de casais, que vieram de casais e mais casais e assim por diante, sendo humanamente inútil procurar qual foi o primeiro deles que formou a história da família de qualquer um de nós.

Porque esse casal do início teria que, sem nenhuma sombra de dúvida, ter sua origem em diversos homens e mulheres que se relacionaram e espalharam suas gerações ao longo dos milênios. Seguindo esse raciocínio, a única maneira de ter absoluta certeza de qual foi o casal que deu início ao viver humano, parece bem cristalino ao menos sob meu ponto de vista, foi o formado por Adão e Eva.

Agora cada leitor imagine se nessa longa e quase interminável cadeia de ascendentes uma só pessoa que dela fez parte tivesse morrido, homem ou mulher, a quantidade de descendentes, até chegar em você, não teria nascido. Sim, você e seus atuais rebentos jamais nasceriam se apenas qualquer homem ou mulher desse longínquo e indeterminado elo tivesse falecido ou sido morto por alguma fatalidade.

Você poderia responder que sim, realmente a quantidade de pessoas que jamais nasceriam seria humanamente impossível de determinar. E acrescentaria: mas nasceriam outras talvez em igual número. Tem absoluta razão, eu diria em concordância. Contudo, pasme, a corrente formadora de sua família, incluindo você e seus filhos, nunca existiria.

Basta raciocinar calmamente para compreender essa afirmação. Milhões ou mais de pessoas e famílias não seriam geradas por causa da morte prematura de somente um homem ou uma mulher no encandeamento formador de qualquer um de nós. Estranho e assustador, não é? Eu certamente não poderia estar neste mundo, nem meus filhos e netos, se, repito, somente um elo masculino ou feminino na cadeia de meus ascendentes houvesse morrido. Nem você. Ou vocês.

Nessa linha de pensamento, reflitamos na seguinte hipótese: se Anne Frank não tivesse sido assassinada pelos nazistas aos quinze anos no campo de concentração onde estava presa, hoje, em viva sendo, teria noventa e um anos. Como ela sonhava desde criança em ser escritora, voando no sucesso mundial de seu diário já publicado e republicado em várias edições no mundo todo, quanta literatura decerto humanista ela teria escrito! Romântica que ela era, e podemos deduzir tal assertiva lendo suas anotações no seu famoso diário, a lógica é que a essa altura da vida seria casada ou viúva, com filhos, netos, bisnetos e talvez trinetos.

No entanto, morta com requintes de crueldades antes da horrenda Segunda Guerra Mundial terminar, com ela foram sua inteligência, criatividade, imaginação, sentimentos, possíveis filhos, netos, bisnetos, trinetos e demais descendentes a se sucederem na correnteza do tempo. Morrendo ela, dá para imaginar quantas centenas ou milhares de seres humanos deixaram de nascer? Assim, a hipótese acima definida de que o passamento prematuro de alguém pertencente a esse ou aquele grupo familiar ocasiona a inexistência futura de muita gente ganha todo sentido. Fosse ela o simples e inesperado elo desaparecido de minha família ou da sua, temos apenas uma mera ideia do número de familiares que não teriam a oportunidade de ver a luz. Este texto jamais viria à tona e você não estaria entre nós para desfruta-lo. A vida é o mistério da perplexidade!

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 14/04/2023
Reeditado em 14/04/2023
Código do texto: T7763273
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