ESPADA AFIADA

Você me ensinou tanta coisa antes desconhecidas de minhas emoções. Principalmente as relativas à tristeza, a exemplo da solidão, das lágrimas vertidas pela saudade, da humilhação, da fraqueza. Ah, sim, foi necessária sua passagem pelos caminhos da jornada por mim empreendida, dos passos cambaleantes, das curvas escuras, das veredas amargas, das bifurcações amedrontadoras.

Puseram-me no devido lugar os trovões dos sentimentos cultivados por nós, ensinando quão miserável se mostra a condição humana. Fui confrontado por mim mesmo como se num espelho, através de você percebi qual o espaço a que pertenço, isto é, ao nada profundo. Aprendi a chorar por sua causa, a falar tresloucado com as paredes por falta de amigos, de quem me ouvisse os lamentos.

Somente a cama e o travesseiro sabem, ou saberiam se possuíssem sentidos. Mas em respeitoso silêncio eles escutaram, noite após noite, meus queixumes e os desabafos, os gritos oriundos da alma que me habita, o clamor desse velho coração habituado a ser agente provocador de dilemas, nunca aquele vítima só próprio desprezo e da indiferença. Através de seu distanciamento eu soube o significado de ser pisoteado pelas paixões. As muitas dores que causei a tantas que me amaram, recebi de volta por seu intermédio.

Nunca imaginei houvesse em você essa magnitude de impassividade, o gigantismo oriundo desse seu manancial de fragilidade enganadora. Da forma mais dolorosa e amarga descobri aprendendo no cerne da carne. Por você, que me fez ver o bumerangue se voltando contra mim com a carga completa de tudo que aprontei e caindo pesadamente na alma, no corpo e no coração.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 08/04/2023
Reeditado em 09/04/2023
Código do texto: T7759232
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.