ESPADA AFIADA
Você me ensinou tanta coisa antes desconhecidas de minhas emoções. Principalmente as relativas à tristeza, a exemplo da solidão, das lágrimas vertidas pela saudade, da humilhação, da fraqueza. Ah, sim, foi necessária sua passagem pelos caminhos da jornada por mim empreendida, dos passos cambaleantes, das curvas escuras, das veredas amargas, das bifurcações amedrontadoras.
Puseram-me no devido lugar os trovões dos sentimentos cultivados por nós, ensinando quão miserável se mostra a condição humana. Fui confrontado por mim mesmo como se num espelho, através de você percebi qual o espaço a que pertenço, isto é, ao nada profundo. Aprendi a chorar por sua causa, a falar tresloucado com as paredes por falta de amigos, de quem me ouvisse os lamentos.
Somente a cama e o travesseiro sabem, ou saberiam se possuíssem sentidos. Mas em respeitoso silêncio eles escutaram, noite após noite, meus queixumes e os desabafos, os gritos oriundos da alma que me habita, o clamor desse velho coração habituado a ser agente provocador de dilemas, nunca aquele vítima só próprio desprezo e da indiferença. Através de seu distanciamento eu soube o significado de ser pisoteado pelas paixões. As muitas dores que causei a tantas que me amaram, recebi de volta por seu intermédio.
Nunca imaginei houvesse em você essa magnitude de impassividade, o gigantismo oriundo desse seu manancial de fragilidade enganadora. Da forma mais dolorosa e amarga descobri aprendendo no cerne da carne. Por você, que me fez ver o bumerangue se voltando contra mim com a carga completa de tudo que aprontei e caindo pesadamente na alma, no corpo e no coração.