O CACHORRO DO LATIDO AZUL
Rambo foi adotado por nós logo após seu nascimento, a pedidos insistentes de minha filha cujo interesse por animais beirava o extremo limite do razoável. Tanto que ela dizia com todas as letras que um dia seria veterinária de pequenos bichinhos de estimação. Na verdade, eu não via com bons olhos a possibilidade de ter um cachorro em casa, minhas reservas a esse respeito eram muitas, mas qual o pai que não cede quando um filho o abraça carinhoso e pede um de presente?
O nome Rambo fui eu que botei, não me perguntem a razão. Penso que logo ao vê-lo me veio à mente ser esse adequado para aquele serzinho tão pequenino e deveras fofo. Teve o fato de eu ter gostado dele no momento em que o vi, confesso. Sim, assumo, malgrado minhas restrições, logo me apeguei ao bichinho. Minha esposa além de nossa filha, claro, amaram o nome, caiu feito uma luva, era realmente a cara dele.
O ao mesmo tempo estranho e interessante é que, notamos, Rambo não latia, não resmungava nem chorava em momento nenhum. Andava pela casa, farejava, mexia em tudo por curiosidade, era amoroso e, como todos os animais, gostava de carinho e atenção. Seria ele surdo e mudo? Bem, mudo talvez, não surdo porque nos ouvia e atendia nossos comandos e broncas.
Durante o primeiro mês de idade Rambo permaneceu em silêncio, até mesmo sem um só grunhido. Até que, certo amanhecer, quando fui ver o que ele estava aprontando pela casa, o maroto saltou para os meus braços e latiu me olhando profundamente no fundo dos meus olhos. A princípio não notei o brilho saindo de sua boca após sua expressão vocal, mas quando ele latiu novamente e mais outras vezes, sempre fixando o olhar em mim, fiquei estarrecido ao vislumbrar o lance de luz azul que piscava da garganta dele a cada latido. Sim, atônito e um pouco maravilhado, vi que Rambo latia azul.