O HOMEM QUE VOAVA🦅

Foi repentino e inesperado, de forma inexplicável e quase inverossímil. Começou pela manhã, quando o sol banhava as árvores e a brisa as secava balançando seus galhos, sob os olhos atentos de Roberto.

Morando sozinho numa casinha simples dum bairro tranquilo, nesse dia Roberto sentiu, aos poucos, algo brotando das omoplatas, aquela espécie de comichão implausível incapaz de ser imaginada normalmente. Como se de cada lado de suas costas uma mão estivesse nascendo.

Óbvio, isso o incomodou, deixou-o assustado. Que metamorfose estranha estaria acontecendo com ele? A transformação seguia lenta mas contínua, o corpo doía, a coisa dupla crescia e assustava, ele se resolvia, se torcia, andava de um lado para o outro tentando compreender a razão daquela anomalia. Tudo em vão, impossível saber o que ocorria com seu corpo.

Ao fim da tarde, Roberto trancado no quarto escuro esperando o término daquela agonia, apavorado ele viu que lhe haviam nascido asas. Enormes, potentes, firmes, punjantes. Não sabendo o que fazer ao acender a luz e se ver alado, entrou em desespero, as mãos na cabeça, as asas desengonçando seus movimentos. O que era aquilo?

Pouco a pouco, sem outra atitude a tomar a não ser aceitar a nova e inusitada situação em sua vida, fez alguns movimentos com os braços, procurou adaptar as asas na composição do corpo, abrindo e fechando, durante um tempo meio sem jeito, até conseguir controlar os inimagináveis novos membros de sua anatomia.

Por que nasceram asas nele? Elas lhe dariam condições de voar? Como esconder e/ou explicar às pessoas a beusca mudança? As perguntas se sucediam nos pensamentos, mil dúvidas o perturbavam. Certamente não podia sair de casa com aquelas asas absurdas chamadoras de atenção.

À meia noite, momento em que o silêncio dominava o bairro e as ruas tornavam-se desertas, Roberto dirigiu-se ao quintal, subiu na mangueira frondosa e abriu as asas se perguntando se voaria. Na primeira tentativa, não logrou sucesso, mas não caiu. Cinco tentativas depois, alçou voo feito um gigantesco condor, sobrevoando o espaço em derredor.

A partir daquela noite, também nas demais, Roberto passou a fazer passeios no ar, já a essa altura feliz por ter adquirido uma habilidade de ordinário negada aos seres humanos, vivendo como um pássaro noturno e dormindo de dia.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 24/03/2023
Reeditado em 25/03/2023
Código do texto: T7748189
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