UM TRISTE E INESPERADO FIM

O pequeno planeta do Sistema Solar conhecido como Arret, a cerca de dez milhões de anos-luz distante do sol, era habitado somente por flora e fauna, sem humanos que perturbassem a paz e a harmonia completas ali existentes. Nesse maravilhoso paraíso, plantas e animais viviam a plenitude da existência feliz, cada ser vivo executando o seu papel conforme a natureza determinou.

A tranquilidade reinava, bichos e vegetais falavam, sorriam e agiam segundo a própria espécie e gênero. Nada havia para reclamar porque tudo funcionava a contento seguindo os padrões que permeavam a vida em geral. As sementes germinavam e produziam os frutos das árvores-mãe, os animais se reproduziam por instinto aliado ao anelo de se perpetuar naquele paraíso repleto de felicidade.

Porém um dia, sem qualquer explicação, a bananeira disse à natureza que embora tivesse sido assim com ela por milhões de anos, não iria mais produzir bananas tendo em vista não se sentir mais uma bananeira. Daquele dia em diante, seus frutos seriam apenas orquídeas. Em seu íntimo, ela se via orquídea. Foi então que, para piorar esse começo de mutação incomum, num efeito dominó, a maioria da flora também confessou à natureza que não mais se via da forma biológica como sempre fora. O abacateiro se achava laranjeira, a mangueira passara a ser limoeiro, o cacto passou a ser abacaxi, a maçã não queria mais ser maçã, tornara-se palmito e assim por diante, todos não sendo mais o que eram quando nasceram. Tal desordem apocalíptica provocou inesperada e nefasta reviravolta na normalidade daquelas terras paradisíacas.

A estranha anomalia, a inesperada revolta de toda a flora, à guisa de fogo tocado pelo vento, espalhou-se de tal forma entre as demais plantas, que chegou também ao universo da fauna. O elefante não aceitava mais sua condição de nascimento, agora tinha convicção de ser uma gazela; o leão a todo custo gritava aos quatro ventos que leão nem pensar, a partir daquele momento podiam chamá-lo de coelhinha; já o macaco balançava o rabo mostrando a mudança que somente ele vislumbrava, portanto daquele dia em diante virou uma corça. Nenhum deles se identificava mais com o gênero ou a espécie biológica que a natureza se encarregara de realizar. Ela percebeu, perdida e inerte, que o caos havia tomado conta de Arret. Sem saber o que fazer, entrou em desespero.

O pequeno planeta Arret virou de cabeça para baixo. Flora e fauna, mesmo sabendo quão estéreis estavam se transformando, ainda compreendendo ser impossível mudar a realidade da própria essência biológica, continuaram em direção à catástrofe avizinhada. A ideia de ser diferente na forma e na reprodução iniciou a lenta mas gradual desertificação do pequeno planeta, dada a proporção tomada pelas mudanças rebeldes de cada habitante vegetal e animal. Tudo deixou de frutificar e de se reproduzir.

Necessário considerar que a mutação artificial atingiu tudo e todos. Quando alcançou a polinização, pois os pistilos não queriam mais polinizar nem ser polinizados, além do quê os insetos destinados a essa missão, por sua vez, perderam o interesse na atividade devido pensarem não ser mais o que sempre foram, teve início o princípio do fim do planeta Arret. O lindo paraíso em pouco tempo definhou e desapareceu.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 19/03/2023
Reeditado em 21/03/2023
Código do texto: T7744117
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