QUEM MATOU DORINETE?

 

   Era uma casa meio esquisita, tinha um imenso jardim que era cuidado por Joaquim, ele morava nos fundos da residência, um antigo imóvel composto de oito quartos, duas salas, uma imensa área de refeições e ampla cozinha, além de quatro banheiros/wc. Quando dona Marinete faleceu, há dois anos, seu Francisco, esposo dela, ficou na casa com mais três filhos, Djalma, Dilma e Dorinete, todos com idades entre vinte e oito e trinta e cinco anos. Eles recebiam muitas visitas de parentes e amigos e os quartos eram suficientes para todos que ali chegavam. A esquisitice da casa teve início depois do falecimento da matriarca, quando Dorinete se dedicou a executar trabalhos ligados a crendices populares, ficando conhecida como a bruxa do bairro, denominação que a incomodava. Era a mais velha dos irmãos e tinha hábitos noturnos como sair tarde da noite dando voltas pelo quarteirão e permanecendo longo tempo em um parque escuro que ficava nas imediações. Ninguém sabia das suas intenções, nem mesmo os irmãos.

   Exatamente depois de dois anos da morte de dona Marinete o Senhor Francisco foi lhe fazer companhia, já estava com mais de setenta anos e o vício constante do fumo foi uma das causas da doença que se abateu sobre ele culminando com a sua morte. A casa ficou entregue aos três filhos que começaram a brigar entre si pela herança, o que não era grande coisa. Além desse imóvel onde moravam existiam mais duas propriedades arrendadas e que foram postas a venda. Os parentes diminuíram as visitas e apenas alguns amigos continuaram, agora com mais intensidade. Dorinete ficou a frente da situação e tentava conter os ânimos sem muito sucesso. Ela tinha uma "amiga" que passou a morar no imóvel, as duas passavam a maior parte do tempo no quarto, quando não estavam nas andanças noturnas fazendo sabe-se lá o que. Os irmãos comentavam o "arrumadinho" de Dorinete com Lívia, mas nada podiam fazer, já desconfiavam há algum tempo, mas deixaram isso prá lá, o que interessava nesse momento era a bufunça que iriam embolsar com a venda das propriedades. Com o tempo Lívia já era considerada "da família".

   Mais de um mês se passou e as propriedades ainda estavam em fase de negociação, a venda já estava quase sendo concretizada. Dr. Anacleto, advogado e corretor, era quem estava a frente com a finalidade de efetuar a venda, passar a grana para os três irmãos e receber a sua parte, que ficou acertada em 20%. Garantiu que seriam vendidas as propriedades, apesar da reclamação sobre o percentual, mas era pegar ou largas e eles ávidos por dindin terminaram aceitando. Durante essa fase o Dr. Anacleto precisou dormir ali no imóvel para dar mais agilidade às negociações, o que não agradou muito aos herdeiros, mas terminou ficando assim, pois o advogado/corretor se interessou também por pertences da casa, objetos e móveis antigos de alto valor comercial e ficou de olho nesse aspecto. A conta bancária do falecido estava recheada, porém Dr. Anacleto colocou alguns obstáculos com o intuito de levar uma certa vantagem financeira além dos 20% fruto da venda das propriedades, o saque ficou para quando tudo fosse resolvido.

   Dorinete começou a receber algumas visitas estranhas ligadas a crendices populares, com isso ganhava algum dinheiro extra, o que despertou a ganância dos irmãos e até de Lívia. Ela e Dorinete as vezes brigavam por conta disso, se achava no direito de auferir algum ganho também. Djalma e Dilma, irmãos mais novos de Dorinete, brigaram feio certa noite por conta dos valores que iriam receber por ocasião da venda das propriedades, no entanto o advogado e corretor que estava no local conseguiu apaziguar os dois e contornar a situação, já que Dorinete e Lívia estavam um pouco embriagadas com vinho e foram logo dormir.

   Enfim as duas propriedades foram vendidas e o dinheiro da venda seria depositado em contas separadas dos irmãos, o valor foi dividido por três e cada um ficou com sua parte, faltando somente o saldo que ficou na conta do pai deles. Com sua esperteza o Dr. Anacleto solicitou uma procuração em seu nome que seria assinada pelos irmãos. Após uma conversa a bendita procuração foi feita e assinada, ficando o corretor de efetuar o saque e entregar o dinheiro vivo, como queriam os irmãos, em suas mãos. E assim foi feito, dirigiram-se todos para a residência e lá cada um teria a sua parte. Houve até uma comemoração regada a bastante vinho com direito a música, participando também o Dr. Anacleto, que também era apreciador de um bom vinho. Dois amigos de Dorinete lá estavam e a farra entrou pela madrugada.

   Na manhã seguinte a frente da casa estava tomada por uma multidão, muitas pessoas se aglomeravam para saber o que tinha acontecido. Duas viaturas da Polícia lá estavam e uma dúvida pairou sobre o ocorrido no interior da residência. Dorinete estava morta, ela foi golpeada com uma facada no pescoço e o sangue jorrou abundantemente. Nenhum dos irmãos sabia quem havia matado Dorinete, Lívia chorava desesperada e Dr. Anacleto dormia num quarto ao lado. Os policiais entraram e trataram de tomar as primeiras providências, o dinheiro em espécie que foi sacado no banco simplesmente sumiu, além de alguns pequenos objetos de valor. Todos foram interrogados depois que a carraspana passou e o autor ou autores do crime não foi descoberto ficando a cargo das autoridades investigarem.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 26/02/2023
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