MINHA VIAGEM AO ANO 2050

No ano de 1970, de uma maneira que infelizmente não posso revelar porque fui programado para evitar possíveis lembranças que talvez mudassem o curso da história caso reveladas, provavelmente até mesmo retaliações, viajei para o futuro e estive no ano de 2050. Foi um acontecimento realmente espetacular em minha vida, pois tive a oportunidade de testemunhar, embora me fizessem esquecer, sob meus protestos, avanços tecnológicos excepcionais que me tiraram o fôlego de tão extraordinários. Mas que foram levados ao porão impenetrável da memória, verdadeiro calabouço onde se escondem as coisas que não me são permitidas lembrar.

Preciso ressaltar o quanto me é difícil narrar sobre o assunto, tanto pela taxativa proibição a que fui forçado a obedecer se desejasse realizar a façanha quanto por causa de uma injeção aplicada em minha veia ao regressar para o passado. O conteúdo injetável, obviamente, tinha por objetivo causar profunda amnésia para evitar que eu escrevesse ou falasse com alguém a respeito do que vi.

E vi muito, um mundo novo, diferente e mais avançado, mas também vi transformações bem acima de minha compreensão, catástrofes ecológicas e misteriosos acontecimentos que gostaria muito de expor, e no entanto praticamente tudo tornou-se perdido nos desvãos de minha memória. Aqui e ali vislumbro resquícios de tudo que vi e assisti, mas são coisinhas bastante miúdas, relances insignificantes, fragmentos incapazes de terminar em contextos, figuras e formas concretas, somente coisas amorfas e sem nenhum sentido.

Lembro, porém, nitidamente, e isso ninguém me tirou, de minha partida numa máquina do tempo complexa que só pude ver por dentro após ser levado até ela com uma venda nos olhos. O painel à minha frente era magnífico, estranho e muitos ano-luz à frente da época, mas apenas me foi permitido ter acesso a esse pequeno espaço do engenho depois de sentar e ser preso a vários cintos de segurança.

Não sei quem são os responsáveis por minha viagem no tempo nem por que me escolheram, nunca os vi nem mesmo quando fui sequestrado - ou abduzido? - Tudo que me disseram foi que eu não teria de mexer em nada e nenhum controle, isso seria feito por eles na parte externa. Coube a mim somente viajar.

Eu ouvia a voz deles, mas nunca mostraram o rosto, além do mais por capuz estava sempre me encobrindo os olhos. Ao depois, com as câmeras de vídeo e foto acopladas por todo o meu corpo e no capacete posto em minha cabeça e acionadas, que foram retiradas na volta para o ano de 1970 e levadas por eles, sobreveio a escuridão causada pelo líquido na veia do meu braço. Para o esquecimento de tudo. Eu não podia nem deveria lembrar do que avistei para não contar ao mundo. Usaram-me como cobaia e ponta de lança de um projeto todo deles, os quais não sei quem são, repito, nada lembro deles nem de nada mais. Infelizmente!

Quem dera eu recordasse de tudo para dizer sobre as maravilhas tecnológicas e os absurdos ecológicos que testemunhei. E falo assim porque dentro de mim permaneceu um misto de tristeza e alegria de tudo quanto meus olhos e sentidos puderam enxergar e sentir. Só lembro de ter feito a viagem no tempo, apenas. Uma pena!

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 08/02/2023
Reeditado em 08/02/2023
Código do texto: T7714648
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