A TERAPEUTA DE RINOCERONTES
O sonho de Odete mais estranho, embora para ela lindo, era ser terapeuta de rinocerontes. Imaginava-se nessa atividade desde os bons tempos de infância, quando trocava bonecas por rinocerontes, para grande espanto de seus pais. Nas lojas de brinquedos, a primeira pergunta que fazia ao vendedor era se tinha bonecos de rinocerontes de todos os tipos, mesmo se a mãe a quisesse levar para a secção de bonecas nas várias versões.
Cresceu com essa ideia fixa, lendo e pesquisando tudo a respeito do animal que despertava em si o desejo absurdo de trata-los como pets de estimação e cuidar de suas mentes e estado psicológico no intuito de ajudá-los a se encontrar e descobrir o papel que precisavam desempenhar no espaço da fauna onde habitavam, viviam e se reproduziam.
Um difícil barreira se interpôs entre o sonho acalentado de ser terapeuta de rinocerontes e a realidade do ensino com que se deparou, visto inexistir formação específica para atuação na área pretendida. Mas, persistente no seu desejo intelectual, descobriu o primeiro e único caminho mais viável para alcançar seu intuito: tornou-se bióloga enveredando pelo provável universo que a conduziria ao intento de seu foco. Depois trilhou os rumos da psicologia buscando especialização em personalidade animal. As duas áreas acadêmicas unidas, pensou ela, a tornariam capaz de exercer algo que a realizaria como ser vivo numa cadeia biológica tão diversificada.
Achando-se pronta para o mister a que se propusera, após intensos estudos capacitadores, despediu-se dos pais apreensivos, que nada puderam fazer para dissuadi-la, foi para a África realizar o seu grande sonho: ser terapeuta de rinocerontes. Nunca mais foi vista depois de entrar na selva bruta escondida das autoridades, sem a permissão necessária, desaparecendo no mar da ferocidade da ravina africana. Não lhe foi possível nem mesmo aproximar-se de qualquer rinoceronte porque foi devorada pelo primeiro leão que a viu