O ESTRANHO VELHO MILAGREIRO
A menina acordou um pouco assustada e chorando bastante, já era quase manhã, seus pais a acalmaram e tentaram saber o motivo dessa crise, pois ela sempre foi uma criança tranqüila, apesar de sua doença ser de cunho mental. Ela articulava poucas palavras no seu dia a dia, mas nesse finalzinho de madrugada Alice disse claramente que queria ver ele. "Ele quem?" - indagava o pai já preocupado. A menina gesticulava muito, coisa que dificilmente fazia, chegou até a informar com detalhes que "ele" estava ao lado da igreja daquela cidadezinha do interior. Pedia que a levassem logo, mas o seu pai esperou amanhecer para poder satisfazer a sua exigência. Nem tomaram café, foram imediatamente ao local indicado por Alice, a mãe dela também foi. Em lá chegando viram um velho com roupas esfarrapadas, usava um surrado chapéu que lhe cobria quase todo o rosto. O pai da menina já havia visto ele ali algumas vezes, estava sempre naquele mesmo lugar, tratavam-no como um morador de rua como tantos outros que existem por aí afora. Se aproximaram, o velho permaneceu imóvel tal qual uma estátua. Alice só dizia: "é ele!, é ele!". Chegando bem mais perto o velho virou-se e sorriu. Pôs a mão na cabeça da menor e nada falou. Alice apenas pediu para voltar para casa.
Foi tudo muito estranho, comentou o homem sobre a filha, que já parecia outra, mais alegre e até pronunciando algumas palavras. A alegria voltou para aquela casa com a possibilidade de um pronto restabelecimento de Alice. Depois de dois dias a menina parecia normal, conversa quase que naturalmente, então o pai dela resolveu sair em busca do velho senhor, mas não o encontrou mais ao lado da igreja. Perguntou por all mas ninguém soube informar.
Júlia era uma menina triste, não tinha amigas, estudava numa escola municipal dessa mesma cidade, era muito discriminada pelos seus colegas vizinhos que tiravam muito sarro com a cara dela, até os próprios colegas de classe faziam isso, fato que a entristecia. Numa certa manhã quando voltava da escola passou nas proximidades da igreja e avistou o velho lá de pé, posição que sempre ficava, o que preocupava algumas pessoas que o viam assim durante muito tempo. Alguns tentavam até falar com ele, porém não ouviam nenhuma resposta, ou melhor, nunca escutaram a voz dele. Júlia teve então o ímpeto de se aproximar dele, não porque quisesse, mas porque sentiu uma força que a impulsionava para ele. Sentiu até receio, mas depois ganhou confiança, parecia até que o conhecia. Aproximou-se dele e fitou-o bem nos olhos, o velho nada disse, apenas pôs a mão em sua cabeça, em seguida ela saiu. Depois desse fato Júlia passou a ser bem quista pelos amigos que acharam-na muito simpática, até em casa seus pais observaram a diferença. Questionada sobre essa alteração ela contou o ocorrido. Procuraram depois o tal homem da igreja mas não o viram mais por lá.
Contam os mais antigos que esse senhor já idoso vive pelas redondezas há mais de trinta anos e ninguém nunca sequer ouviu a sua voz, nunca soube se dormia em algum lugar ou mesmo se ele fazia algum tipo de refeição, o que sabem dizer é que está sempre só e geralmente num cantinho ao lado da igreja e sempre em pé. Muitas pessoas têm dado declarações de que foram curadas por ele, mas quando o procuram para agradecer ele simplesmente desaparece.