VISITA INESPERADA
A tarde estava tão gostosa, na varanda da minha casa eu sentia o prazer de ser abraçado pela brisa refrescante depois de um lanche saboroso que toda tarde já é de costume. Um cafezinho fresco com biscoitos e pão doce, que maravilha! Estava de férias com ideia de viajar com a esposa, mas ela ainda estava trabalhando como professora de uma escola municipal e só emendaria as suas férias com as minhas a partir do próximo final de semana e eu teria que esperar. Lá pelas cinco ela chegou, sorridente como sempre, tomou seu banho, descansou e lá vamos nós para a varanda apreciar a lua em todo o seu explendor. Uma brisa quase gelada nos acariciava, mas estávamos agarradinhos para espantar o frio. E assim continuamos até a chegada do grande dia de emendarmos nossas férias, afinal não tínhamos filhos pequenos para tomarmos conta, então era só aproveitarmos e ganharmos a estrada rumo ao litoral deixando esse sítio em terras longe da cidade grande.
E o grande dia finalmente chegou, Leila saiu para ensinar, era uma sexta-feira, ela dava aulas pela manhã e pela tarde, almoçava por lá mesmo. Fiquei só na expectativa, passei a manhã zanzando por ali, chegou a hora do almoço, almocei, tirei uma soneca e quando deu três da tarde lá estava eu lanchando, café com biscoito e pão doce, uma belezura, depois fui prá varanda namorar com o vento, essa brisa refrescante que não me deixava em paz, mas eu gostava. Cinco horas em ponto, fixei os olhos no horizonte, a qualquer momento a minha diva apontaria, ela tinha que passar pela porteira do sítio ao descer do transporte que sempre a trazia até a nossa propriedade. Esperei ansiosamente, receberia ela, deixaria descansar, tomar seu banho, jantarmos, iríamos para a varanda apreciar a lua agarradinhos por conta do frio e depois cama. Na manhã seguinte viajaríamos para a praia para curtirmos nossas férias. Tem coisa melhor? Mas a hora foi se passando e nada de Leila, cinco e meia, a tarde se findando e ela não aparecia. Fiquei preocupado. Continuei sentado na varanda a esperar, ela tinha que chegar, nunca se atrasou. Um monte de indagações começaram a povoar minha mente, um mal pressentimento se apoderava de mim e uma névoa estranha se formou diante dos meus olhos, eu não sabia mais o que fazer, o clarão da lua já dava sinais de que a qualquer momento iria nos recepcionar, mas eu estava só e preocupado. Me levantei do grande banco da varanda onde a gente sempre ficava e olhei para a porteira, alguém se aproximava, porém não dava para identificar de imediato se era Leila devido a escuridão que já se avizinhava. Mas enfim uma alegria tomou conta de mim, era Leila, ela estava chegando, comecei então a cantarolar, a sorrir e corri ao seu encontro de braços abertos. Ela vinha lentamente e quanto mais eu corria mais ela se afastava e isso me deixava louco. Eu não conseguia entender. Então parei e esperei. Ela estava vindo em minha direção, bem devagar, quase parando, mas eu me contive, se avançasse ela poderia se distanciar ainda mais. Minutos se passaram até que eu conseguisse finalmente abraçar aquele corpo sedutor. Eu estava tão entusiasmado que minha primeira iniciativa foi beijar aquele cangote, sentir o seu perfume, mas... espere aí, esse perfume não era o de Leila e ela jamais deixaria de usar o seu predileto. Aquela sensação estranha me atormentava, fiquei na dúvida se estava mesmo nos braços da minha mulher, larguei seu pescoço e fitei seu rosto, mas a escuridão não permitia e ela nada dizia, apenas se deixava abraçar e isso me constrangia. Súbito o clarão da lua iluminou seu rosto e vi nitidamente que não era minha esposa, mas a fisionomia se assemelhava muito. Nesse momento ela, delicadamente, fez um movimento com as mãos como a desejar que me afastasse dela e nossa distância foi aumentando e cada vez mais nos afastávamos até eu me ver novamente sentado no banco da varanda. A escuridão desapareceu repentinamente, vi tudo claro. Olhei o relógio, passava pouco mais de dez minutos das cinco da tarde. Nisso vislumbrei a porteira se abrindo, agora não restava nenhuma dúvida, era Leila que chegava.