LIVRO DEVOLVIDO
A luz clara da manhã entrava através da vidraça da enorme janela da sala. Passava das oito e Cláudia lia um romance, um tipo de leitura onde se evocava o amor. Era do seu agrado ler sempre pela manhã depois da primeira refeição do dia. A tarde seu tempo era ocupado pelo trabalho que executava na biblioteca municipal onde herdou essa atividade de sua querida irmã Cleide, falecida recentemente vítima de acidente automobilístico, fato que a deixou muito triste, além de irmãs eram grandes amigas e agora se sentia só em uma enorme casa apenas com a presença de uma fiel empregada que ali residia há muitos anos. No auge dos seus sessenta e três anos e viúva há alguns anos dedicara-se a ler livros que enaltecessem o amor, fôra ela uma mulher romântica e sempre dedicada ao marido. Filhos não tivera, nem ela e nem a falecida irmã que inclusive era solteira, mas que fora desprezada pelo companheiro que a deixou por outra.
Certa tarde Cláudia estava com pouco serviço e que foi terminado logo, bem antes de largar às cinco horas, resolvendo então ler um romance que focava em uma situação bem parecida com o caso de sua irmã Cleide. Os fatos se encaixavam perfeitamente com a vida da mana, era sobre uma jovem que morria de amores por um sujeito metido a bonitão e dono de uma empresa de cosméticos. Ele nem olhava para ela, mas diante da insistência da moça resolveu namorá-la. Essa tal moça também se chamava Cleide, uma coincidência, o que fez Cláudia iniciar a leitura com o pensamento na irmã, que também gostara de um rapaz que era dono de uma loja de ferragens, que não dava atenção para ela. Cleide, no entanto, insistiu até que o rapaz se chegou para ela e aí inciaram o namoro que durou alguns dias, mas como ele era mulherengo acabou deixando Cleide por outra e nunca mais ela o viu. No romance que começou a ler Cláudia viu a semelhança dos fatos do romance com a vida da irmã e se apegou muito a leitura. Deu cinco da tarde e ela precisou largar, colocou o livro numa sacola e seguiu para casa. Quando subiu no ônibus a sacola caiu e ela não viu, sendo alertada depois que o coletivo partiu, mas já era tarde. Ficou preocupada e desceu na próxima parada, voltou mas não encontrou a sacola com o livro. Ficou muito triste mas seguiu para sua residência apanhando outro ônibus.
Cláudia estava encabulada, nem tinha chegado direito no meio do romance e estava ávida pelo final da leitura. Tomou seu banho, jantou e ficou a observar a fina chuva que caía, pela janela dava para ver os pingos coloridos em contraste com a luz de um poste na rua. Nesse momento um leve toque ela ouviu na porta de sua casa, pensou ser imaginação, até que outro toque aguçou seus ouvidos. Esperou alguns segundos e se dirigiu até a porta abrindo-a. Ali sob o tapete estava a sacola com o livro.