O ANDARILHO MISTERIOSO
Em meados do já longínquo ano de 1969 passou pela nossa cidade de Picos um andarilho misterioso. Aquele “velhinho” transeunte por aqui passou seguindo a pé pela BR 316, sentido Leste-Oeste, com apenas algumas paradas ou permanências em alguns pontos situados à margem da referida rodovia, como, por exemplo, a calçada de alguma casa.
Com base na logicidade do itinerário e direção da marcha percorrida, pode-se imaginar que ele era talvez procedente do Ceará ou de Pernambuco. Mas não se sabe a verdade. Essa é apenas uma hipótese. E também ele pode ter aparecido somente aqui mesmo no Piauí. Ninguém aqui foi capaz de conseguir desvendar esse mistério.
Ele era barbudo, magro, alto e de cabelos relativamente longos, e trajava roupa toda branca, camisa de mangas longas não ensacada e calça brancas, com pequenos rasgos na altura dos joelhos; usava alpercatas, tipo sandálias de couro antigas. Ele não falava absolutamente nada. Era como se fosse mudo; e muito oculto. Não se alimentava. Mas tinha um olhar sério e firme. Por esta razão, o povo se impressionara, tamanha semelhança com Jesus Cristo, Jesus de Nazaré. Na verdade, ele tinha uma aparência que lembrava o povo judeu.
Em algumas residências do lugar ainda hoje há algum registro fotográfico, em preto e branco, daquele andarilho misterioso, sempre em pé e de braços abaixados e uma mão sobre a outra, numa postura que sempre lembra Jesus Nazareno.
Qual seria, ou qual era sua missão? Seria uma penitência? Seria um profeta calado? Um místico? O certo é que ficou um enigma e um mistério pairado no pensamento do povo picoense da época, pois aquele “velhinho” jamais pronunciou aqui uma única palavra.
Na realidade, ele não era velho, era ainda relativamente jovem, tinha talvez menos de quarenta anos, mas assim se costumava dizer sobre aquele andarilho misterioso, chamando-o de “velhinho misterioso”. E logo depois de sua passagem por aqui, muitas histórias se ouviu falar a seu respeito, assim como se se tratasse de um santo.
Em Picos ele chegou numa tarde ensolarada e pôs-se em pé na calçada de uma casa de um bairro da zona leste da cidade, pernoitando ali. Sempre encostado na parede da fachada da casa. Muita gente foi vê-lo. Naquele dia as visitas das pessoas do lugar eram contínuas. E as histórias eram várias. Meu pai também nos levou para vermos aquele andarilho misterioso. Eu era ainda criança, mas me lembro como se fosse hoje.
Fala-se que uma senhora de muita fé e residente no lugar, foi visitá-lo, e levava consigo um filho que não andava; então, aquele homem peregrino, envolto em mistérios, passou a mão afagando levemente a cabeça da criança, permitindo a ela voltar para sua casa caminhando milagrosamente ao lado da mãe.
Para aumentar ainda mais a crença e a impressão do povo do lugar, naquela mesma tarde vimos quando um caminhoneiro desconhecido estacionou o seu caminhão à margem da rodovia, e se aproximando a pé, de forma indagativa falou:
“Esse homem já está aqui?! Passei por ele lá num povoado a mais de cinquenta quilômetros daqui, e não parei em lugar nenhum! E nem ninguém me ultrapassou!”. O caminhoneiro também vinha no sentido Leste-Oeste. E naquela época eram poucos os veículos que por aqui trafegavam.
Na manhã seguinte ele se retirou; partiu a pé, e uma grande quantidade de pessoas do lugar o seguia na célere caminhada em passos largos. E por onde ele passava, mais gente ia acrescendo à multidão. Passando pelas proximidades do centro da cidade, onde não mais parou, vimos quando um barbeiro, perplexo, abandonou o cliente na cadeira reclinável e saiu para a calçada da barbearia; e com uma tesoura numa das mãos e o pente na outra mão, ao ver aquele andarilho misterioso e a multidão que o acompanhava, foi taxativo e em alto tom exclamou:
“Nem mesmo na procissão de São José do Ribamar, no Maranhão, eu vi gente desse tanto!”.
Depois de sua passagem pela cidade de Picos, começaram a surgir mais histórias e lendas sobre aquele andarilho misterioso e enigmático, que aqui na cidade permaneceu por cerca de 20 horas, ficando nos moradores uma impressão e um mistério até hoje nunca desvendado ou revelado.
Conta-se que ao se aproximar do extremo oeste do estado do Piauí, às margens do rio Parnaíba, rio este que divide os estados do Maranhão e do Piauí, como um mistério inenarrável e indescritível, o andarilho escalou uma árvore, indo até o seu topo, e assim como um vulto, teria ali desaparecido no ar... E ninguém mais o conseguiu ver.
Já em outra versão, diz-se que aquele andarilho misterioso teria feito a travessia do rio Parnaíba caminhando por sobre as águas do grande rio, e ao chegar à margem do lado maranhense, ele como um vulto teria desaparecido misteriosamente. E ninguém mais o conseguiu avistar.
P.S. Esse Andarilho Misterioso nada tem a ver com o Profeta Gentileza que passaria aqui pela minha cidade quase 20 anos mais tarde. Quando este passou (Profeta Gentileza), eu já estava estudando em Recife já fazia alguns anos, e, por isso, não o vi; eu soube apenas da história falada pelo povo do lugar e também através das matérias jornalísticas publicadas pela imprensa local.
Picos-PI
Edimar Luz