A MANCHA DE SANGUE

Sim, vou começar a narrativa deixando muito bem claro que ela, a personagem principal deste conto... Espere, não sei se devo iniciar assim, provavelmente ficaria sem graça e desmotivaria o leito de continuar. Portanto, caio numa profunda dúvida: não sei s'eu digo☺️. Desculpe quem por acaso estiver lendo e esbanjando paciência com o meu texto. É que enquanto bem seguro eu tinha certeza de que seria de muito bom alvitre esclarecer algo de suma importância sobre ela, a personagem principal sobre quem me referi acima, fui percebendo o quanto deveria mesmo deixar a revelação para o final apoteótico do relato. Aqueles que leram até aqui realmente têm a paciência de Jó. Mas garanto que serão recompensados com um ápice impactante. Portanto, continuemos, permaneçamos firmes na leitura dessas mal traçadas linhas.

Alaíde, a mulher do princípio desta história, se mostrava toda eufórica e feliz porque logo casaria com Paulo, o noivo de seus sonhos. De tão ansiosa, chorava, se contorcia, gastava horas sozinha no banheiro, ria nervosa, gritava impaciente e subia as paredes ante a iminência do dia mais lindo de sua vida. O dia do sim ao amado.

Três dias antes do casamento, Paulo adoeceu. Ah, pra quê? Alaíde entrou em forte desespero e profunda depressão, bradando aos quatro ventos sua decepção e afiançando que tiraria a própria vida caso ele morresse. Sim, esqueci de contar que quando Paulo chegou ao hospital e falou de dores insuportáveis no estômago, uma mera endoscopia mostrou a seriedade do caso. Era câncer. E novos exames no dia seguinte constataram o avançado da metástase. Foi entubado em coma induzida.

Alaíde não se conformava, aquilo não podia estar acontecendo com ela! O homem de sua vida, que não a conhecera na intimidade nem tocara em sua virgindade porque a história se passa na década de sessenta do Século Vinte. Ela queria tanto! Mas não podia, jamais, noivo nenhum naquela época dormia com a noiva antes de casar. Nem pensar! Seria um escândalo e mancharia a honra da moça. E agora? Ela guardara com tanto zelo o tesouro de seu precioso paraíso virginal. Precisava fazer alguma coisa, urgente.

Arrasada mas disposta, no dia de visita no hospital pediu para ficar sozinha com o amado. E fechou a porta da UTI. Em pouco tempo, ouviram-se choro e gemidos. Ninguém viu nada, apenas ouviu, contudo na saída de Alaíde uma mancha de sangue e o rubor no rosto dela chamaram a atenção.

Paulo morreu uma semana depois. Desde então a vizinhança do bairro espalha à boca pequena que Alaíde perdeu a virgindade para Paulo naquela visita na UTI. Deixo bem claro que ela... bem.. Alaíde... isto é...

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 03/01/2023
Código do texto: T7685708
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