A ESTRANHA FESTA

Não que fosse uma comemoração fenomenal, muito longe disso. Tratava-se apenas de uma festinha exclusiva para a família, ninguém mais. A enorme quantidade de filé de salmão nas dezenas e dezenas de caixas enfileiradas junto à parede do salão de festas não pertencia ao pai da aniversariante e nem fazia parte dos petiscos a serem consumidos pelos presentes. Poderiam sim, de maneira frugal, servir-se de uma leve e moderada porção, nada mais.

Mas já havia gente comendo salmão cru, como se sushi fosse, até mesmo o dono da casa. Não a mãe dele, que, discreta, sentada estava e calada ficou o tempo inteiro. Como se não estivesse na festa. Seu cunhado e as sobrinhas vieram, elas tagarelas, ele acabrunhado, em silêncio. Nem tocou no salmão encaixotado, diferente das filhas assanhadas que logo pegaram grandes nacos do peixe e se lambuzavam entre risinhos e fofocas.

O dono da festa, sem música e sem alegria, foi ao encontro do cunhado e perguntou por sua irmã, recebendo como resposta um olhar glacial de reprovação. Socorreu-lhe a filha mais velha entupida de salmão, dizendo ao tio, surpresa: " o senhor não sabe que mamãe morreu?" Foi então, de súbito, que as luzes se apagaram, forçando o dono da pretensa festa a acender a lanterna do celular.

Quando ele direcionou a luz para o chão, muitos dos poucos presentes viram que este era de barro e areia. O pior e mais repugnante: repararam haver sapinhos pequeninos parados em toda a extensão do salão. Eram muitos, centenas, milhares, parecendo pontinhos pretos vivos. E todo mundo pisava em cima deles enquanto festejava rindo, pilheriando e comendo o salmão que não fazia parte do menu da festa.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 31/12/2022
Reeditado em 02/01/2023
Código do texto: T7683634
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