A COISA
Altas horas da noite, pelo nevoeiro de Londres, caminhava sinistro vulto, vestido de luto. Chapéu torto preto, no capote ocultava o segredo, a maleta lacrada, com a mercadoria valiosa encomendada. Batia o sino fúnebre na torre, soando amargura, ao lado do gárgula no goivo, de asa de morcego lascada pelo raio cego. Piou a coruja de atalaia, a balada da Lua, oculta pelo véu de neblina escura. Tal silueta lúrida, aguardava na ponte impaciente, a chegada do cliente. Soaram ruídos de passos, batendo sapato, olhando desconfiado para todos os lados, finalmente veio o freguês atrasado ao seu encontro. Envoltos na névoa, as duas sombras escronchas se enfiaram no parque, na cumplicidade das árvores. Se escutou um estalo de gravetos quebrados, ganido macabro, fugiu um deles apavorado, tiritando de medo de ser outra vez preso, pelo ato vilesco. O outro dotado de coragem, aproveitou para tirar vantagem, retirou do manto a maleta, abriu a tranca da tampa. Tomado de assombro, caiu no chão frio, olhos arregalados de espanto, morreu do veneno blasfemando.
Dentro da noite o conteúdo, rastejava pelos arbustos, finalmente livre, a Jararaca ilhoa, na caça de aranhas arpoas. E foi se pendurar no galho, feito pendorucalho, batendo chocalho, proteger o matagal com seu veneno mortal, do cativeiro de reptílias ilegal. Ssss
🐍 🐍 🐍 FIM 🕷️ 🕷️ 🕷️