O INUSITADO MENINO DOS OLHOS GRANDES
Causava verdadeiro espanto o tamanho dos olhos daquele menino esquisito. Pelo menos para mim, já que nunca antes presenciei uma criança com tão imensas bitucas no rosto. Eu não sabia para onde ele olhava fixamente, a distância do meu apartamento para a janela do prédio em frente era de certa forma razoável. Mas os olhos se destacavam por destoarem do usual, aquilo não podia ser normal. Duas outras coisas nele também me impressionavam, até mesmo assustavam: ele sempre estava só e nunca se mexia. Apenas olhava algo ou alguma coisa sem piscar.
A primeira vez que o avistei, tomei um baita susto porque ele lembrava o boneco Chuqui, aquele do filme que não assisti por detestar histórias de terror. Não tenho certeza se fui visto por ele, porém não suportei encara-lo mais que dois minutos, se é que ele me olhava ou me atravessava e enxergava além. Escondi-me dele, daqueles olhos grandiloquentes, daquela visão amedrontadora. Através de uma brecha espiei-o mais atentamente para verificar se nele realmente havia tamanha desproporção ocular. Sim, havia. Mesmo escondido, seguro de que não estava sendo visto, penso que por um momento o menino me fitou, sabendo-me a observa-lo. Dei um pulo para trás, aterrorizado. Por que se era somente uma criança? Não sei, havia sinistralidade perceptível no seu jeito de olhar, e isso me atemorizou.
A partir de então, eu procurei não dar atenção a ele, fechei minha janela e passei a cortina. No entanto ele continuava lá, dia após dia, mirando a mesma direção, buscando ou vendo qualquer coisa em algum lugar que eu jamais descobri. Às vezes eu brechava da fresta e lá estava ele, impassível e imóvel. Logo, contudo, eu me afastava da brecha pois acreditava estar sendo observado por ele. Com seus enormes olhos perscrutadores. Como podia ser?
Certo dia, o menino dos olhos grandes acenou para mim sem sorrir, ao contrário mais sério ainda, ciente de minha presença na brechinha. Apavorado, resolvi nunca mais por a vista na fachada da janela em frente, mesmo a brecha eu cobri com pedaços de papel. Quem era o tal menino? Por que ele tinha olhos tão grandes? Quem mais morava com ele? Essas perguntas ficaram sem resposta. Até hoje.