O MISTERIOSO QUARENTA E OITO
Pacata cidade de cinquenta mil habitantes, gente simples, muitos se conheciam e tinham amizade, comércio razoável, pequenas indústrias caseiras, um ou outra de maior porte, famílias seguindo a vida, os filhos estudando em escolas públicas ou particulares, de modo que viver ali trazia bucolismo, tranquilidade e uma certa paz. Apesar de, de vez em quando, alguns entreveros de somenos importância servirem para agitar um pouco os habitantes entediados.
Até o dia em que o homem com a camiseta branca onde estava escrito na parte de trás "Quarenta e oito" entrou na delegacia. Dirigindo-se ao delegado informou ter algo a dizer sobre o assassinato ocorrido vinte anos atrás. Crime, aliás, sobre o qual ninguém mais falava e que nunca foi esclarecido. A mulher de um vereador tinha sido estuprada e morta, reviraram tudo pela cidade sem descobrir o autor do bárbaro crime. A única evidência encontrada foi o número quatro praticamente impresso no abdômen dela, como se uma fivela ou algo semelhante tivesse sido pressionado sobre o local.
O estranho desconhecido disse que o assassino era obeso, vestia calça número quarenta e oito, fazia parte do ciclo de amizade da família enlutada e ainda morava na cidade. O delegado perguntou como ele sabia tudo isso e se tinha como provar a inusitada acusação, caso contrário seria o primeiro suspeito e seria detido para averiguação. O homem sorriu e disse: " Meu nome é quarenta e oito, sou vidente e aguardarei aqui, preso, enquanto o senhor procura na família da mulher morta um homem gordo cujo tamanho da calça é quarenta e oito e tem esse número na fivela do cinto que ele usava no dia do assassinato."
O delegado colocou "Quarenta e oito" na cela e foi à casa do viúvo. Não por coincidência, ao chegar encontrou o vereador conversando com um primo bem rechonchudo que, por acaso, era primo dele. Depois das amenidades, o delegado perguntou ao familiar do vereador o tamanho de calça que ele vestia. " Quarenta e oito", respondeu. Nesse momento o delegado viu o cinto e pediu para vê-lo de mais perto. Embora estranhando o pedido, sob o olhar atônito do vereador ante tal atitude do delegado, o sujeito tirou o cinto e o entregou. E lá estava, na fivela, o número quarenta e oito. Sob pressão, nervoso, gaguejando ao responder as perguntas do policial, e mesmo envergonhado diante do viúvo da vítima, o homem confessou tudo.
Ao voltar para a delegacia com o suspeito, a cela onde Quarenta e oito ficou preso estava vazia. O desconhecido com nome de número tinha desaparecido.