Acionamento da guarda do quartel – O monstro alado.

Só quem já passou pela famigerada escala de serviço 1x1 entende o que irei falar agora. Quando a noite cai, tudo o que o militar quer fazer quando sai do quarto de hora é deitar na cama do alojamento e tirar a sua etapa de sono. Cada minuto de descaso conta! O que ele não quer fazer de maneira nenhuma é do temido PDA – Plano de Defesa do Aquartelamento. Que é acionado para adestramento ou quando alguém invade o quartel, fora isso, é só manter o padrão do serviço e esperar a rendição. Na minha época no Exército, tinha um soldado que sempre via alguém pulando o muro do posto que ele guarnecia, todo o serviço era a mesma coisa, plano de defesa acionado e lá iam os soldados da escala apertada guarnecer os postos para tentar capturar um fantasma. Isso mesmo, fantasma! Porque ninguém além do 02, via o tal indivíduo. E por falar em coisa do outro mundo, vou narrar o fato ocorrido lá pelos idos de 1997, que não foi com o 02, mas foi com outro soldado do mesmo padrão.

Um colega da minha turma, que era amistosamente chamado de “Predador” durante o serviço de guarda do quartel, fez a gentileza de pedir reforços pelo rádio porque pasme-se, teria avistado... Vou deixar para depois para não perder a graça. O cabo da guarda atende o rádio por volta das 00:30 e de olhos arregalados tratou de acordar a guarnição:

- ACORDEM! LEVANTEM! PEGUEM SEUS FUZIS!

- O que foi Cabo? Perguntou um soldado sonolento.

- O Predador viu um gárgula pousado em uma das torres lá no campo de futebol.

- O quê? Eu ouvi direito Cabo? Um gárgula?!

- Sim! Foi isso que ele disse no rádio.

- E como se combate isso? Perguntou outro soldado preocupado.

- Pergunta para o Sargento, ele deve saber.

- Vamos lá, não há tempo a perder, lá a gente descobre!

E lá se foi uma parte da brava guarnição combater um inimigo improvável, já que a outra fração estava engajada em proteger os outros postos.

O caminho até o campo de futebol parecia não ter fim, a tensão era grande e o medo também, afinal, qual soldado na História do Exército Brasileiro recebeu treinamento para guerrear contra um ser mitológico? Não julguei os meus companheiros à época e não os julgo em época nenhuma! Combater seres alados de outra dimensão é coisa para super-heróis ou até mesmo para os anjos. Estes últimos eram convocados em silêncio pelos companheiros de caserna. Porém, quero destacar aqui, que nenhum deles recuou. Marcharam firmes a caminho do desconhecido como valentes soldados de infantaria. Nessa altura já estavam conformados que iriam encontrar algo sobrenatural e não mais temiam por suas vidas. É interessante observar essa característica do soldado, antes de avançar é tomado por certo temor, mas depois que se lança rumo ao combate, é tomado por um espírito de coragem e destemor que sobrepuja até mesmo o mais feroz inimigo. Se nossos antepassados tomaram Monte Castelo de modo quase que artesanal, o que era um simples monstro alado pousado no alto da torre? Seria páreo para nossa bravura? Resistiria a nossos fuzis? Pois bem, tais perguntas ficaram sem resposta porque o tal gárgola não foi achado em nenhum lugar do campo de futebol. Nem no muro, nem na torre, nem nos telhados,nem nas traves de futebol ou noutro lugar que lhe poderia servir de poleiro. E o nosso amigo predador? Pois bem, naquela altura já estava na hora de ser rendido, então voltou para a guarda para dormir. Já o outro colega que teve seu sono interrompido, ficou em seu lugar vigiando o tal gárgula imaginário com um sono que era muito, mais muito real.

Fabrício Fagundes
Enviado por Fabrício Fagundes em 26/11/2022
Reeditado em 27/12/2022
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