A DESCONHECIDA

Porque nunca houve, porque era noite e estava muito escuro, porque ela me olhou, paramos no meio da calçada, nos olhamos e saímos juntos sem palavras, nossos corpos faiscando, trocando energias como dois fios ligados captando luz.

Porque mesmo sem dizermos qualquer frase ou palavras soltas, elétricos, nos dirigimos ao local onde a intimidade é confidencial, então extravasamos, subimos as paredes feito dois loucos, rimos sem motivo, cantamos músicas incoerentes, dançamos, pronunciamos indecências e tudo foi maravilhoso. Ela pensou que eu fosse nissei ou sansei, tendo sido por isso que se encantou comigo. Eu disse que sim, meu avô era japonês, o que a fez vibrar de entusiasmo. Ela era fissurada em japoneses, achava-os cortezes e simpáticos. Entrei na onda surfando.

Porque mesmo tudo tendo havido foi como se jamais nada tivesse acontecido, na escuridão das luzes negras do motel, na penumbra das ruas por onde depois andamos e nos despedimos igual nos filmes, nos romances e nos tablóides. Dois desconhecidos numa noite de muitos por quês e sem qualquer noção, vivendo mistérios repentinos, nadando no rio calmo dos simples instantes.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 25/11/2022
Reeditado em 26/11/2022
Código do texto: T7658042
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