WALTER BOCA DE JACARÉ
Diziam, sempre com extremo sarcasmo, que se Walter Boca de Jacaré gargalhasse provavelmente engoliria a própria cabeça, tão imensa e disforme era sua apavorante bocarra. daí, claro, o infamante apelido que ganhou não se sabe de quem. Todos da rua o chamavam assim, inclusive seu irmão Waldir cuja boca , para seu alívio, não tinha as mesmas dimensões do Boca de Jacaré.
Walter odiava ser chamado de Boca de Jacaré. Se lhe fosse possível mataria um a um dos que o chateavam com esse apodo humilhante, inclusive o próprio irmão que também não o deixava em paz. Aonde quer que fosse, onde estivesse e em qualquer circunstância lá estava alguém apelidando-o. Os jovens sabem ser odientos quando lhes é conveniente ou se encontram vítimas frágeis em quem descarregar o fervor dos hormônios em excesso. E esquecem que ferir ou magoar o semelhante por ser diferente poderá respingar neles mesmo em algum momento da vida. Porque o mundo gira, as pedras e as pessoas se encontram e, nesse encontro, quem outrora foi pisoteado poderá estar em vantagem superior e poderá descontar o recalque do passado naquele que tanto o maltratou.
Mas Walter não esperou o girar do planeta para desfechar sua vingança em cada um dos gritavam " Boca de Jacaré!" quando ele passava. Ávido leitor, descobriu como calar seus detratores de uma vez por toda. Sem ninguém desconfiar, nem mesmo seus pais, após aprender a técnica de coletar veneno de cobra, roubou uma cobra coral verdadeira de um criador da cidade e escondeu o animal peçonhento no porão da sua casa, passa do a alimenta-la com camundongos e coletando o máximo de veneno possível. Quando já tinha o suficiente, tendo todo cuidado, passou a levar consigo o recipiente contendo o veneno. Então, disfarçadamente, quando avistava ao longe quantos o humilhavam, enfiava a ponta de uma agulha de crochê no veneno e, por trás do seu algoz, envenenava-o ao feri-lo com a agulha. E cometia o crime de forma tão dissimulada, que a vítima nem percebia, achando tratar-se de uma picada de inseto. Um por um os matou, menos ao irmão. Nunca conseguiram ligar Walter Boca de Jacaré aos crimes.