A NEBLINA TENEBROSA

Apraz-me-ia neste momento um colo macio para me aconchegar, bem como aquele ombro amoroso que me. acolhesse e onde eu pudesse chorar todas as lágrimas engavetadas, os abafos não confessados, a tristeza escondida, a amargura recalcada, as emoções represadas ao longo dos dias, semanas, meses e anos. Eu choraria tudo até a última hora para acalmar a ânsia que me invade o coração.

Quiçá viessem sorrisos em minha direção, braços abertos carinhosos felizes por envolverem meu corpo no seu doce calor. Ah, eu me derramaria na entrega e me derreteria no auge da carência. Com certeza seria aque forte abraço sorridente que nunca termina. Como é saboroso e relutante os enlaces que nunca acabam. Porque se mostram ternos, amplos, inesquecíveis e sem fim.

Tantos braços e rostos em volta, tanta ternura esboçada em derredor, quantas vozes e risos se espalham nos quadrantes de onde estou. Mas não são para mim, ninguém enxerga minha presença, tornoei-me completamente invisível aos olhos e atenção dos transeuntes. Olham-me como se vissem um pilar de bronze ou um banco de praça onde as pessoas não querem sentar.

Como cheguei a isso? Por causa do simples perfume de uma mulher cujo encanto me enfeitiçou, foram os olhares, os braços, o corpo e a ternura dela que me transformaram num vegetal onde somente os cães levantam a pata para satisfazer suas necessidades. Ela me deu tudo imaginável e inimaginável, porém depois, bem logo, largou-me nas brumas da neblina a meio caminho da jornada. Nem ela nem outras, tão-somente as brumas ficaram.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 18/11/2022
Reeditado em 18/11/2022
Código do texto: T7652830
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