IGUAL A TODAS AS NOITES
Tomou um comprimido de rivotril de dois gramas e deitou, adormecendo em pouco tempo completamente dopado. Como todas as noites. Não, definitivamente a felicidade não era para ele. Cabiam-lhe tão-somente as lágrimas imbuídas de saudade, tristeza, abandono e solidão.
Tratara a vida como um brinquedo, agora ela lhe devolvia em dobro a indiferença recebida dele. Roubara sonhos e sorrisos, chutara o tempo e as responsabilidades, vivera numa louca corrida desenfreada de paixões e desamores, portanto recebia tudo de volta. Via, assim, o bumerangue do destino tornar para suas mãos com as mesmas agruras atiradas às gargalhadas zombeteiras.
O que lhe restara então? O rivotril, a solidão, o desprezo, o abandono e a indiferença, as noites dopado, olho por olho. Arcava as consequências de um viver brusco, ríspido e muito irresponsável.