LÁGRIMAS
A noite de Natal sempre me faz chorar, sem qualquer razão aparente, sem motivo algum, apenas choro. Mas são lágrimas de emoção fluindo da alma, resvalando no coração e brotando nos olhos. Então, serenas e singelas, deságuam no meu rosto e rolam faces abaixo. É algo por demais forte e vai muito além da alegria, da tristeza, das saudades, das lembranças. Como se englobasse o conjunto de todos os sentimentos humanos num só momento.
Perguntam-me por que choro e recebo abraços reconfortantes de minha esposa, que me acompanha na valsa das lágrimas, de nossos filhos que não conseguem compreender como posso chorar num dia tão lindo, de tanto simbolismo, união, fraternidade e amor. Não tenho resposta, não encontro argumentos para quando me questionam. Apenas choro por instantes.
Talvez no todo que motiva a noite emotiva estejam meus natais da infância ao lado dos meus pais e irmãos, os amigos que o tempo se encarregou de afastar, os flertes inocentes, as primeiras namoradas, os castos beijos do tempo em que namorar não era transar, mas nos conhecermos um ao outro, e quão encantador e mágico nos parecia. É provável distinguir nesse ajuntamento de emoções a míngua do jantar natalino, a simplicidade dos presentes humildes, a ingenuidade de achar que Papai Noel iria nos visitar trazendo nossos presentes quando dormissemos. Penso ser tudo isso e, decerto, um algo mais de tom empírico e espiritual bem além de minha imaginação.
Penso que continuarei chorando nas noites natalinas enquanto ouvir por toda a cidade as músicas próprias desse dia realmente belo, único e cheio de tantos motivos para sorrir e chorar ao mesmo tempo. Um abraço de feliz Natal compensa todas as lágrimas vindo do manancial da alma. Talvez os soluços sejam um jeito todo especial de demonstrar a existência de um elo invisível entre meu corpo, alma e espírito com uma dimensão sublime indescritível.