Skant (parte 1)
Em um vilarejo próximo à cidade Skant, às marges do rio Sahrus, uma família estava a descansar após um fatídico dia. Jonas, morava com sua família naquele vilarejo desde o falecimento de seus pais, a casa era a sua herança mais valiosa. Seus filhos, Euclides e Nora, se divertiam enquanto a mãe deles lavava as roupas às margens do rio.
Victória sempre desejou um futuro com sua família fora do vilarejo, mas Jonas nunca quis deixar a casa de seus pais.
Nesta noite, Jonas sentou à mesa de jantar com sua esposa enquanto seus filhos estavam dormindo.
- Meu amor. - Se aproximou Victória ficando de pé em frente à mesa.
- Tudo bem? - Perguntou Jonas, enquanto estava sentado.
- Eu sei o quanto você gosta desta casa, mas nossos filhos não podem viver aqui pra sempre, meu amor.
- Eu sei meu amor, e eles não vão, um dia eles terão suas próprias casas e...
- Mas amor, eu estou falando de agora, Nora e Euclides precisam de educação com qualidade, precisam de um lugar que possa oferecer melhores condições para viver.
- O que você está falando, Vic, nós somos os pais deles, sempre fizemos de tudo para que nunca faltasse nada nesta casa. - Jonas levantou-se da mesa com o tom de voz mais alto.
- Você não entende! Não faz bem ficarmos aqui, e eu não irei ficar aqui! - Victória exclama derramando lágrimas.
- E você vai abandonar seus filhos? - Perguntou Jonas.
- Não, eu vou levá-los comigo!
- Você não pode tomar essa decisão sozinha Victória.
- Eu sou a mãe deles!
- E eu sou o pai, droga! - Jonas vira de costas e caminha em direção à sala para dormir no sofá.
Toda aquela discussão havia acordado Euclides e Nora que já sabiam que não era a primeira vez que seu pai dormia no sofá da sala. Na verdade, o relacionamento do casal já vinha demonstrando singularidades nos pensamentos de Jonas e Victória. O fato de sua esposa insistentemente pedir para que se mudem para Skant, deixava Jonas descontante, pois ainda tinha uma memória presa de seus pais na casa. Para ele, o último pedido de seus pais talvez fosse de nunca abandonar aquela casa.
Naquela noite, após o fim da discussão, todos foram dormir. Nora, a irmã mais velha, abraçou seu irmão para acalmá-lo pois ele estava com muito medo de seus pais se separarem, tal como sua irmã.
Pela manhã, Jonas havia saído cedo para a labuta enquanto sua esposa cuidava de levar seus filhos à escola que ficava bem distante. Euclides era muito introvertido, mas sempre agia de forma educada, costumava ser debochado por seus colegas, pois era muito querido pelos professores.
Naquele dia, sua mãe disse para Nora levar seu irmão para casa já que ela estava muito ocupada. Nora faz uma pausa para visitar uma amiga, a qual o seu irmão adorava, pois ela sempre o mimava com doces.
- Nora, dê esses doces pro seu irmão, minha mãe e eu que preparamos, estão uma delícia.
- Que gentileza amiga, obrigado. Queria ter trazido algo pra você, mas tive que buscar o Euclides hoje.
- Não se preocupe, haha, eu tenho doces de sobra, vem vamos comer!
- Infelizmente hoje não vai dar, temos que voltar logo para casa, nossa mãe mandou.
- Ah, mas vai rapidinho. Eu prometo! - Disse sua amiga, Patrícia.
- Vamos, eu quero comer mais doce! - Disse Euclides.
Nora e seu irmão foram comer mais doces na casa de sua amiga, cujos pais eram muito simpáticos com ambos. Após chegar em casa, Nora notou certa estranheza, pois seu pai havia chegado mais cedo em casa. Os irmãos ouviram um barulho vindo do quarto de seus pais, e foram até ele para ver o que estava acontecendo. Jonas havia revirado tudo, o quarto estava uma bagunça, móveis de cabeça para baixo, pilhas de roupa no chão.
- Filho, cadê a mamãe? - Jonas pergunta de Euclides.
- Ela disse que estaria ocupada hoje e pediu pra eu levar o Euclides pra casa. - Respondeu Nora.
- Aquela cretina! - Resmungou Jonas.
- Pai! o que está acontecendo? - Euclides perguntou cabisbaixo. Embora Euclides fosse cinco anos mais novo que Nora, Jonas não hesitou em dizer o que sabia.
- Sua mãe vendeu a nossa casa, meus filhos. Essa traidora roubou o documento da casa e vendeu. Não temos mais onde morar. - Disse Jonas sentando na cama e esfregando seus olhos cheios de lágrimas. Depois se levanta calmante.
- Amanhã vou tentar recuperar a nossa casa meus filhos, e vocês vão passar um tempo na casa dos tios de vocês, não se preocupem eles vão tomar conta de vocês e o papai vai visitar vocês todos os dias, eu prometo.
Naquela noite, Jonas havia convencido seus filhos de que sua mãe não voltaria, já que ela não tinha aparecido desde a noite anterior. Então Jonas fez algo que não fazia há tempos, passar um tempo com seus filhos. Jogaram cartas, Euclides brincou de cavalinho montando nas costas de seu pai e Nora, embora preocupada com sua mãe, aceitou a brincadeira que seu pai havia proposto:
- Quem quer fazer competição pra ver quem aguenta comer mais sanduíches? - Jonas, preparou sanduíches para a competição. No fim, Nora ganhou de seu pai, que por sua vez, venceu Euclides. E então, todos estavam no sofá vendo um filme juntos. E de repente, no meio da noite, com muita chuva, um carro preto estaciona próximo à casa e buzina. Jonas levanta e se dirige até a porta segurando um guarda-chuva. Ao abrir a porta, encontra sua esposa com uma capa de chuva, ela pergunta se pode ver seus filhos, e Jonas nega o pedido.
- Você é louca? Depois de ter nos abandonado o dia todo você vem vê-los?
- Olha, eu sei que eu errei em ter te deixado sozinho com eles, mas eu consegui um lugar na cidade para a gente morar. - Disse Victória.
- Eu não vou sair desta casa, Victória, você é uma criminosa, como pôde vender o nosso lar?
- O seu lar! Não quero mais ter de passar uma noite sequer aqui.
- Como queira, mas eu não irei arredar o pé daqui e nem vou deixar que leve as crianças de mim.
- Eu sabia que você diria isso... - Rindo solenemente, Victória faz um sinal com a mão esquerda, - Já que você quer dificultar as coisas. - Um homem encapuzado aparece ao lado de Jonas e o esfaqueia no estômago. Jonas agonizando em dor, xinga sua mulher:
- Sua vadia, eu sabia que você ia aparecer alguma hora com outro. O homem encapuzado finaliza Jonas e se vira para Victória.
- E aí? Não mereço um beijo meu amor? Fiz o que você pediu.
- Sim, meu amor, claro que fez.
- E como vamos nos livrar dessa? O que vai dizer a eles (os filhos)?
Victória pensou naquele instante em como poderia perder a guarda de seus filhos se fosse presa. E ela perderia tudo, a menos que...
- Eu acho que pensei em algo.
- O que? . Victória saca uma arma com silenciador e rapidamente atira contra a cabeça de seu amante. Logo em seguida, foi buscar seus filhos.
- Mãe, onde você estava? Cadê o papai? - Euclides e Nora perguntam.
- Seu pai foi atacado por um homem mal, filho, precisamos fugir antes que seja tarde. Sem mais perguntas, Nora abre a porta dos fundos e todos saem em direção ao carro preto.
- Vamos filhos, entrem no carro, é da mamãe. Não se preocupem!
- E o papai? - Nora indagou.
- Minha filha, escute, papai está no céu agora, precisamos fugir ou vamos para o céu também. E Victória acelerou o carro indo em direção à cidade de Skant onde ficava sua nova casa.
Jornais locais afirmam que nunca houvera registado um caso de assassinato tão horrendo no vilarejo próximo ao rio Sahrus, desde quando um serial killer, conhecido como Argan afogava suas vítimas no rio, mas foi morto por policiais locais há cinquenta anos atrás. Era um vilarejo calmo desde então.
[A imprensa está convicta de que este assassinato pode ser devido a uma separação do casal, já que moradores locais anonimamente afirmaram terem visto Victória tendo encontros românticos com um homem estranho há um tempo].