MORTE NAS CHAMAS
Caminho em silêncio sobre os dias dos meus anos, a voz morreu na garganta e sempre me engasga quando lembro de tudo. Cada detalhe tintim por tintim. Porque foi deveras forte e impactante, afogou meu coração em lágrimas, explodiu-me os olhos em profuso pranto. Eu quis estar lá, ver e rever e chorar e gritar. Amigos e familiares tentaram me conter, suplicaram para eu ficar distante da cena e da dor. Não adiantou, nada seria capaz de me segurar naque momento tosco.
Aqui e ali tropeço na saudade, dou uma topada no desprezo, piso no buraco da indiferença, mas continuo seguindo sob o peso do fardo de da desconfiança. Porque depois desses anos todos, malgrado todas as provas coletadas pela polícia, eles persistem em me achar culpado pelo acontecimento. Não sabem o que vai em minha alma, desconhecem meus sentimentos. Claro que não foi eu! Quantas vezes eu afirmei isso.
Quando saí de casa pela manhã, vi a caixa de fósforos na cabeceira ao lado do maço de cigarros dela. Que fumava mesmo sob proibição médica e estando muito doente justamente em virtude do maldito vício, e embora sabendo o quanto odeio cigarro. Ao voltar, avistei a casa em chamas, q multidão bisbilhotando e os bombeiros buscando debelar o incêndio. Tinha minhas digitais na caixa de fósforos e no maço de cigarros. Claro que tinha! Eu morava ali e era casado com ela, cuidava dela. O inquérito concluiu que ela acendeu um cigarro e deixou o fósforo aceso cair sobre os lençóis. Porém muitos acreditam que eu saí, voltei em poucos minutos, toquei fogo na cama e saí novamente. Não é verdade! Ela mesma, por acidente, morreu queimada. Pelo menos imagino que foi assim. Eu só disse a ela que fumasse enquanto eu estivesse fora. Sim as mãos dela tremiam e... e se foi eu? Não, eu... bem...