O MISTÉRIO DA MÃO

Certa manhã, Paulo acordou sentindo incomum formigamento na mão direita, algo bastante diferente e estranho como se inesperado frenesi tivesse tomado conta dos nervos, ossos, cartilagens e vasos sanguíneos. Mas ele percebeu que aquilo, para seu próprio espanto, não era ruim, pelo contrário, mostravam-se prazeroso e mágico, causando gostosa sensação de bem-estar, gozo, alegria e ternura.

Foi ao banheiro para a higiene usual, vestiu-se e, em seguida, dirigiu-se à cozinha para tomar o café da manhã. Sua irmã gêmea Cleide, ao lado dos pais, como costumeiramente fazia pois amava muito o irmão, o abraçou com efusivo bom dia sob o olhar sorridente da mãe. Foi então que o inusitado aconteceu: perpassou pela espinha dorsal de Cleide um frio arrepiante que lhe percorreu o corpo inteiro, ela tremulou como se voasse ou flutuasse e seus olhos brilharam igual a duas luas cheias. Soltou o irmão, fitando-o sem compreender por que não notara antes, o corpo se contorcendo, agarrou-lhe o rosto puxando-o para si na intenção de beija-lo ardentemente na boca. Apavorado, Paulo a empurrou evitando o beijo, perguntando aos gritos se ela tinha enlouquecido, mas Cleide insistiu tentando agarra-lo, a todo custo querendo beija-lo na boca, sendo necessário o pai segura-la enquanto ela se debatia incontrolada na ânsia de um desejo absurdo. Paulo correu de volta para o quarto aturdido, trancou-se respirando ofegante. O que teria acontecido com sua irmã?

Ouviu baterem à porta. Perguntou quem era e abriu para sua mãe, que estava tão apavorada e alucinada quanto ele. Na cozinha, o pai dele ainda tentava impedir Cleide de correr atrás da mãe na repentina loucura que a acometeu. Chorando sem entender o súbito e assustador estado de coisas daquela manhã, Paulo abraçou a mãe. Esse gesto, no entanto, bastou para o triste fenômeno tornar a ocorrer. Ela foi tomada pelos mesmos sintomas da filha, só que o instinto materno falou mais alto e a fez empurrar o filho e sair em desabalada carreira, batendo a porta com exagerada força.

Todos esses fatos esquisitos deixavam Paulo assustado e em total desalento. Trancou a porta, sentou na cama chorando, as mãos na cabeça. O que causara todo aquele tumulto comportamental da mãe e da irmã? Foi quando sua mão direita voltou a dilatar-se em êxtase, gozo, prazer, alegria e ternura, desta feita mais intensamente. Então ele, alarmado, soube que sua mão, por razões incompreensíveis, de alguma maneira aterrorizante, adquirira o poder perigoso, mesmo sem ele saber como, do toque de Eros.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 28/10/2022
Reeditado em 29/10/2022
Código do texto: T7637576
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.