UM TIRO NA NOITE
O jovem acordou escutando a troca de farpas acontecendo no quarto de seus pais. Discutiam mais uma vez, e a coisa parecia mais séria naquele início de madrugada. Porque havia também gritos, barulho de móveis tombando, impropérios singrando o espaço onde estavam e uma acalorada situação de inusitada desesperança. Eles sempre brigavam, já se mostrava algo rotineiro e, embora habituado mesmo sem gostar daquelas constantes rusgas, mas não daquele jeito.
O jovem levantou da cama disposto a tentar por um fim definitivo àquilo, impossível suportar mais tanta desavença. Seu lar se transfomara numa perigosa arena de gladiadores. Aproximou-se do quarto onde acontecia o entrevero, enquanto a confusão do casal continuava, pensando em esmurrar a porta e bradar seu protesto há muito engasgado na garganta. Porém um repentino silêncio segurou-lhe o braço no ar. Ouviu a voz da a mãe: "Vou matar você, não aguento mais!"
Ele olhou pelo buraco da fechadura e avistou a mãe apontando a arma para o esposo. Antes que ele emitisse qualquer som de dissuasão, escutou um tiro. Logo, seguiu-se horrendo grito de dor. Depois o silêncio cortado apenas pelos soluços da mãe. "Mãe!", ele chamou. Ela abriu a porta, a arma ainda fumegando na mão. "Mãe!", repetiu ele. Arrancou-lhe o revólver que segurava, disse para ela ligar para a polícia e avisou: " Eu matei papai!"