" POR FAVOR, NÃO ME DEIXE SÓ! "
O homem que entrou na cafeteria do shopping apresentava aquele semblante caído dos vencidos, o ar expresso dos derrotados. Por sua aparência, cabelos brancos e rugas criando depressões no rosto, o olhar cavo, provavelmente teria mais de setenta anos. Buscou um lugar vazio, sentou e esperou ser atendido enquanto, ansioso, buscava entre os frequentadores alguém conhecido, aposentado como ele, sozinho igualmente.
Vagueou os olhos pelos quatro cantos do estabelecimento, a alma suplicando sorrisos amigos, o coração clamando por atenção. Nada. Ninguém. Suspirou quase a chorar, segurando as lágrimas por muito pouco, um tris, se bobeasse choraria. Viu a atendente se aproximando, tentou recompor-se. Ela o cumprimentou com sorrisos profissionais, anotou o pedido e se foi. O homem a seguiu como se seus olhos fossem dois pés acompanhando-a. Suspirou novamente. "Tão bela e jovial!" , pensou, enchendo-se de lembranças de outrora.
A jovem atendente retornou, trazendo o pedido dele, nela aflorando o mesmo e profissional sorriso inicial. Ele retribuiu a cortesia, agradeceu. Depois disso, dizendo-se à disposição para qualquer acréscimo ao pedido, ela já ia saindo quando ele a chamou: " Por favor" , disse ele, "não me leve a mal, sou um idoso sozinho, passo semanas sem ter com quem conversar, vivo numa amarga solidão e não suporto mais! Será que você poderia me fazer companhia e conversar comigo? Eu peço permissão ao seu patrão, caso você sinta pena de mim, pago o seu tempo e consumo. Por favor, preciso ouvir a voz de alguém a mim dirigida, a solidão e a tristeza estão me matando." Quatro olhos ficaram molhados: os dele e os dela.