A MISTERIOSA MULHER NA MADRUGADA

Ela foi vista pela primeira vez por um anônimo no quinto andar do apartamento dele, no instante em que ele olhava a madrugada através da janela aberta. Fumava placidamente e jogava os anéis de fumaça nos braços da brisa. Então ele a viu andando sozinha na maior tranquilidade, talvez sem rumo, estranhamente parecendo perdida. Porém o que mais o sobressaltou, causando assombroso espanto, foi perceber que a mulher estava completamente nua.

A notícia da desconhecida caminhando nua durante a madrugada tomou conta dos jornais, alguns questionando a veracidade do relato, outros ironizando sobre a possibilidade de a testemunha estar dopado com algum alucinógeno, de forma que o caso tomou contornos de pilhéria e foi esquecido após dois dias sem ninguém saber a identidade da mulher ou se ela existia mesmo, pois seria o caso mesmo de invencionice do homem que afirmava tê-la visto como a descreveu.

O acontecimento adquiriu traços de verdade quando a misteriosa mulher foi novamente vista em outra rua, depois da meia noite e completamente despida, andando como se em transe, buscando alguma coisa ou apenas levada pela insanidade, algo assim do tipo. Seria uma louca fugindo de casa, decerto de qualquer hospício? Chama-la de maluca não constituía exagero, por óbvio, porque como de outra maneira pôde-se-ia denominar a pessoa que sai nua e sozinha pela madrugada?

Ocorre que desta feita a testemunha ligou para a polícia avisando que a estranha mulher estava passando nua na sua rua. Uma viatura tempestivamente atendeu ao chamado e chegou ao local poucos minutos depois da mulher nua ter passado. Portanto, se fossem rápidos e ágeis a encontrariam adiante. E assim aconteceu, lá à frente ela ia em seu talvez tresloucado passeio noturno da forma como veio ao mundo. Os policiais ligaram a sirene, a mulher nua parou e se virou para vê-los. Sorriu como se zombasse, acenou e, como fumaça esvaindo pela força do vento, pouco a pouco se desfez em milhões de sopros que se espalhavam no ar. E desapareceu

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 18/10/2022
Reeditado em 18/10/2022
Código do texto: T7630663
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