MISTÉRIO DA LOIRA COM CABEÇA

Mistérios e contos dos mais variados povoam a historiografia de diversas culturas, portanto na cultura brasileira além do homem do saco, do boi tatá, da mula sem cabeça que soltava fogo pelos olhos, naturalmente sem deixar de mencionar o boto que engravida as meninas na região amazônica e o mais famoso o saci Pererê. Justamente na contramão essa não é a história de qualquer homem ou mulher sem cabeça. Nessa narração a criatura em evidência tinha cabeça sim.

Inicialmente para os leigos, vamos descrever as principais partes de um navio.

Calado é a parte da embarcação que fica dentro d’água, isto é a parte do casco que permanece abaixo da linha de água. O lado esquerdo é bombordo, o direito estibordo, a traseira do navio é identificada por popa, a frente proa, a parte da frente que corta a água é chamada de quilha. Do lado interno temos a parte mais profunda que é a casa de máquinas, local destinado ao motor principal e outros equipamentos. A parte de cima creio que todos devem saber é o convés, a parte mais alta, a cabine de comando é identificada pelo nome de ponte. Devidamente identificado as partes principais vamos ao relato, a narração, deixando os entretanto, vamos para os finalmente.

O nome da embarcação e seus tripulantes serão fictícios visando não comprometer as pessoas envolvidas.

Final dos anos 60 o governo brasileiro adquiriu um navio da segunda guerra mundial, uma velha embarcação em péssimo estado, pelo acordo o navio não podia sair de seu país de origem rebocado, teria de navegar por seus próprios meios. Alguns reparos foram feitos apenas o suficiente para que a nau pudesse chegar até nosso território onde permaneceria no estaleiro por um longo período, necessário para suas reformas.

Decorrido um espaço de tempo bastante elástico, muito além do prazo estimado, eis que finalmente a nau de combate foi liberada recebendo como batismo o nome ALAGOAS. Para comandar essa bela embarcação foi designado o almirante Mario Mendonça, seus subordinados eram o capitão Luiz Simione, o imediato Claudio Pereira e uma enorme tripulação.

Nas primeiras horas do dia 12 de setembro o navio recebeu ordens de zarpar, imediatamente ouviu-se a voz de comando “soltar as amarras e acionar o motor principal” de forma graciosa sob um silêncio enternecedor estava o navio deixando o porto do Rio de Janeiro.

A todos os testes aplicados o “novo” navio da nossa marinha estava respondendo de forma satisfatória. Aos poucos os marinheiros foram se habituando ao novo brinquedinho, raramente alguém apresentava os sintomas de náusea proporcionados pela maresia. O mar não estava muito agitado, porém o balanço lateral era suportável, mas todo bom marinheiro sabe que deve evitar a todo custo ir para a proa, o sobe e desce da frente do navio além de perigoso, causa mal estar.

Ninguém sabe explicar o motivo, quando o relógio apontava pouco mais das 3:00 h da madrugada em noite de céu encoberto o cozinheiro decidiu ir até a proa, retornou apavorado, com os olhos arregalados, tremendo e falando com dificuldade, ao afirmar que tinha visto uma mulher loira na proa do navio.

Ele foi encaminhado para a enfermaria, ministraram uma dose cavalar de sedativo para acalmar o pobre homem. Como poderia ele ter visto uma mulher loira se naquela época não havia mulher na marinha? Como o marinheiro insistia em afirmar ter visto uma mulher loira na proa do navio, ele foi deixado no primeiro porto, encaminhado para o hospital da marinha e, ninguém conseguia demover o marinho de afirmar ter essa visão, não havendo mais recurso ele foi aposentado por demência.

Apenas 2 dias haviam se passado, o marinheiro que trabalhava na sala das máquinas, todo apavorado fez o mesmo relato para os oficiais da mulher loira na proa, esse foi o segundo encaminhado para o hospital militar. Na noite seguinte após a meia noite, o marinheiro Sérgio passou pela mesma situação, de forma irredutível afirmava com veemência ter visto a tal mulher. Pobre Sergio teve o mesmo destino. Os oficiais ficaram intrigados quando o quarto marinheiro apresentou o mesmo relato, sendo os 4 que deram baixa por problemas mentais.

Afinal que mistério era esse de na primeira viagem 4 dos melhores marinheiros, fazerem a mesma afirmação, a de terem visto uma mulher loira na proa do navio, justamente local em que todos procuravam evitar. De maneira muito constrangida o capitão precisou preencher um relatório e enviar para o almirantado, sabendo que em virtude desse texto seria chamado a prestar esclarecimentos em um interrogatório vexatório.

Entre toda a tripulação surgiram os boatos, comentários e opiniões. Alguns acreditavam que se tratava de alguma mulher esposa ou filha de algum oficial que morreu durante a guerra e que ela essa mulher tinha voltado ao barco para procurar seu ente querido. Vamos chamar um padre para benzer esse barco e fazer uma oração, dizia alguns. Outros opinavam em trazer um pai de santo, qual nada diziam outros essa é uma tarefa para um pastor da minha igreja evangélica. Enfim todos desejavam em fazer prevalecer sua opinião. Os mais temerosos diziam que iam pedir para ser transferido, que não desejavam servir mais naquele barco. Eu não desejo passar pela mesma situação que meus colegas. O importante é que ninguém sob nenhum pretexto ia mais para a frente do navio. O episódio tornou-se tão sério que alguns chegaram a suspeitar da água ou comida servida aos marinheiros. Mas se a razão for essa, por que só alguns sentiram os efeitos dessa possível contaminação?

Realizados todos os testes necessários o comandante recebeu instruções para retornar ao Rio de Janeiro e ancorar no porto. Dois dias apenas havia se passado após o Alagoas ter atracado, quando ao transitar pela famosa Praça XV no centro da cidade, o marinheiro Sérgio surtou no meio da multidão, agarrou-se a uma mulher loira e desesperadamente grita....é ela, é ela.

Ambos foram detidos, encaminhados para a delegacia, em que foi constatado:

A mulher não sabia falar o português, estava sem nenhum documento que pudesse atestar sua entrada legal no país, eita outro mistério como essa mulher chegou até lá? Após longo interrogatório com o auxilio de um marinheiro intérprete, tudo ficou esclarecido.

A mulher era dinamarquesa, começou um namoro com um dos marinheiros que foram buscar o navio, como ele ficou encantado com a mulher, em um dia aberto a visitação antes do barco zarpar, o marinheiro escondeu a mulher na proa do barco por imaginar que ninguém iria até esse local e ela não seria descoberta. Quando o navio estava atracado no Brasil e aberto a visitação, a mulher loira desembarcou normalmente junto com os visitantes.

Assim posto essa não é a história da loira sem cabeça como muitos pudessem preconizar que seria uma história envolvendo os mistérios do além.

nestorfelini
Enviado por nestorfelini em 18/10/2022
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