O ANJO
Tão-logo o sono profundo me dominava, e eu buscava no mundo empírico algo impossível de encontrar na realidade do meu cotidiano, ele chegava. Os primeiros traços dele que me chegavam à percepção dos olhos eram suas brancas e enormes asas, diferentes, alvíssimas e exalando um odor nunca antes por mim sentido, absolutamente desconhecido mas inigualavelmente maravilhoso.
A seguir, deixando-me em êxtase idílico, o brilho de sua magnífica aura, ostensiva e esplêndida, que lhe cobria o rosto e me impedia de divisar sua fisionomia. Então e logo, ele por completo flutuando, fluído, dizendo palavras e frases incompreensíveis ao meu intelecto, porém agradáveis e perfumada de doçura, de grande impacto, tamanha serenidade e inexplicável paz, que tomava todo o meu ser, em especial o coração. Se em mim havia lágrimas e tristezas escondidas lá no recôndito mais íntimo dos dias e anos vividos e por viver, desapareciam, eram substituídas por alegrias inimagináveis transbordando ternura, embevecimento, cândida magia.
Eu tentava falar, dizer algo, qualquer coisa mesmo incoerente, todavia tudo que eu conseguia articular sumia no nada, engasgava no caminho dos pensamentos, não passava de suspiros gozosos, de gestos ofegantes, de rompantes de prazer jamais dantes percebidos. Quanto a ele, o anjo cor de neve, continuava falando e encantando minha alma, pronunciando frases e periódos os quais, embora eu não compreendesse, transportavam-me a alma para um oceano de encanto.
O tempo de sua presença no sonho não sei mensurar, parecia eterno, infinito. Ou segundos. Isso não importava, no entanto, o desejo era que perdurasse, nunca mais tivesse fim. Eu nem queria mais acordar, anelando viver aqueles instantes para sempre. Por três noites tive esse privilégio além da imaginação, e mesmo não sabendo o teor da mensagem que me trazia, ela passou a fazer parte de mim todos os dias e anos. Até hoje.