OS GATOS PRETOS DA SENHORA EMÍLIA
Os gatos da senhora Emília eram todos de cor preta, rejeitados quaisquer outros de cor diferente. O que era realmente estranho, pois ela, pode-se dizer, adorava gatos. Pretos, apenas. E ninguém ousava indagar dela os motivos dessa preferência um tanto esquisita. Como poderiam, se era uma idosa rabugenta sem papas na língua? Consequentemente todos achavam por bem deixá-la em paz ao lado de seus mais de cem gatos pretos.
Não se sabe por que, subitamente os gatos pretos da senhora Emília começaram a amanhecer mortos, um a um, para desespero dela. O veterinário contratado por ela, após diversas autópsias, concluiu, estarrecido, inexistir explicação para as mortes. Todos os bichanos mortos apresentavam organismo completamente saudável, portanto morrer daquela forma se mostrava algo inusitado e sem uma razão plausível. Ademais, o médico assegurou que não havia o que fazer para evitar outras possíveis mortes.
Para desespero da senhora Emília, os gatos pretos de sua estimação continuaram morrendo dia após, sem motivos e sem nenhuma explicação. Até não restar um único vivo. A velha senhora chorava, arrancava os cabelos, gritava a emoção de sua dor desmedida. Sem a companhia de seus amados gatos pretos a vida perdera todo o sentido para ela. O pior era que mesmos os gatos pretos recolhidos mas ruas ou a ela doados pelos vizinhos condoidos de seu deprimente estado de tristeza morriam no dia seguinte, como os anteriores. Talvez tenha sido esse o motivo de a própria senhora Emília, dias depois, vestida de preto dos pés à cabeça, amanhecer morta. A autópsia não logrou descobrir a causa do repentino falecimento, posto que verificou-se estar ela inteiramente saudável, sem doença alguma. Também para a morte dela não havia razoabilidade científica, fato concreto ou qualquer explicação.