O LOUCO DA RUA
Diziam-no doido varrido, louco que falava consigo mesmo, com as folhas das árvores, com a brisa, com o sol, e sorria para fantasmas vistos somente por ele. Procuravam não lhe dar atenção, preferiam despreza-lo, ignora-lo como se ele não existisse, assim pensavam em estar distantes e livres de suas pretensão loucuras.
Contudo, e as pessoas da rua nem imaginavam tal conjetura, era justamente essa indiferença dos seus semelhantes, o viver solitário, o não ter amigos de bate-papo, o ser escolhido para tornar-se o louco da rua por ele ser só, que o fazia débil mental, que transtornava suas ideias e atormentava suas emoções.
Abandonado pela esposa muitos anos atrás, esquecido pelos familiares, se é que os tinha, deixado para trás a exemplo da manada cujo membro ferido não pode acompanhar o ritmo dos demais, ele era o faz tudo na casinha onde morava. Mas, já idoso e cansado, obviamente não fazia muito além do básico. Por essa razão a sujeira virara companhia diária, malgrado seus pobres esforços visando contornar as vivissitudes.
Andava por aí de vez em quando, chutando pedras e latas, escorraçando vira-latas, esbravejando contra a indiferença do mundo e de tantos iguais. Apesar de nunca receber resposta, cumprimentava a vizinhança, os passantes, também extrapolando a simpatia ao dar bom dia às plantas, aos postes e ao nada.
Por ser visto diariamente na rua e nas proximidades, os vizinhos estranharam quando se passaram dias sem a presença dele perambulando, chamando a polícia no momento em que um mau cheiro dominou o ar da rua. Os policiais nem precisaram arrombar a porta, estava apenas encostada. Chamaram o nome dele, não ouviram nada, o odor fétido aumentando, e o encontraram placidamente deitado na cama, as mãos postas numa atitude serena. Em todas as paredes do quarto havia papéis apresentando estranhos e misteriosos desenho, mas o que mais perturbou a polícia foram as inúmeras fotos de aves mortas.